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La Petite Souris

 


As luzes azuis piscam em ritmo ordenado/Através da janela, a chuva morna cai/Formando uma mistura inebriante de marcantes aromas/Churrasco, vento quente e chão molhado//As luzes azuis suspendem o movimento caótico/Porém, não está suspensa a agitação que coordena a casa/Por entre carregadores de celular, petit fours de aliche e barulhos de televisão;/Perfumes enjoativos se encontram no ar, uma guerra sazonal costumeira//E, de repente, as luzes azuis se apagam/A escuridão, porém, é logo cortada por uma luz única vinda do teto/Batom vermelho, cabelos por trás da orelha, correntinhas no pescoço/O clique abafado das chaves girando na fechadura//A luz amarela do corredor se acende ao suave movimento do sensor/Uma última checada para garantir que o gás está fechado/Sorrisos nervosos, saltos batendo no chão/Álcool em gel na mão depois de acionar o elevador para o sétimo andar do prédio//Pinheiro falso, renas de plástico, "cuidado para não escorregar"/Estacionamento vazio, barulhos de fogos de artifício sendo estourados ao longe/O rádio do carro sintonizando música pop anos 2000, Mariah/Uma parada antes do destino final//Um resumo da Véspera de Natal.

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O meu Calendário do Advento me pediu, então aqui estou: este é o primeiro conto de Natal de 2022 que vocês lerão aqui no blog. Eu desejo de coração que vocês gostem... E, também, que me indiquem novos temas para as outras histórias que aqui se escreverão. Um bom início de dezembro para vocês, querido(a)s amis! :) ------------------------------------------- Era a primeira noite com neve do ano. Pela janela, podia ver o asfalto sendo coberto por uma grossa manta alva, o contraste com o grafite surrado remetia a sabão e roupa suja. Pequenos flocos de neve caíam do céu arroxeado e tudo se esfriava, respirações congelavam, sorrisos de crianças apareciam encantadas com a certeza de que o Natal finalmente havia chegado. Elas teriam sido boas ao longo do ano? Ganhariam doces multicoloridos ou pedaços de carvão nas meias penduradas no alto da lareira? Inspirada por suas alegrias inocentes, não tive como sorrir também. Distraída, vi meu reflexo na janela do restaurante. Mamãe tinha razão: eu ficava muito melhor quando sorria... Apesar das rugas que surgiam, infames, em minhas bochechas; o sorriso trazia uma luz delicada ao meu olhar, sempre tão duro e inconstante. Um desabafo dos meus ansiosos pensamentos, milhares de pensamentos, a toda hora, por cada coisa, em todo lugar. Como agora: você viria? Por que ainda não estava aqui? Se acontecera alguma coisa, por que ainda não havia me ligado? Quando chegaria? Havia desistido de mim? A verdade era que olhava para fora do restaurante a sua procura e não por causa da neve. Besteirol sentimental, esse Natal! Espiava ansiosamente a entrada do restaurante, os ouvidos abertos para todo e qualquer som de sinos que uma abertura de porta anunciasse. Revirava o celular nas mãos, apertando-o levemente. Foi quando o barulho de talheres caindo na mesa ao lado desviou a minha atenção do mundo interior conturbado a sua espera. Olhei para a origem do som: um garotinho de seus seis, sete anos, havia derrubado a colher que usava para tomar uma sopa de queijo. Estava com os pais: o primeiro, repreendia-o com o olhar, preocupado com a perscrutação alheia de suas vidas; o segundo, envergava-se por debaixo da mesa na tentativa de o auxiliar. Discretamente, tentei olhar para baixo para ver se a ajuda era bem-sucedida. De relance, vi o homem piscar marotamente para o filho, fazendo uma careta engraçada e apontando para cima, indicando  a ele para não se abalar tanto com a cara feia que encontraria. Foi a segunda vez que sorri naquela noite, envolvida com a atmosfera familiar dos meus vizinhos de mesa. Mesmo em meio ao caos de sentimentos que me circundavam. Então, eles voltaram a jantar. E eu decidi escanear o ambiente em que me encontrava. Era um restaurante italiano. Um restaurante italiano decorado para as festividades de fim de ano: festões de um verde profundo eram os cachecóis aconchegantes das pilastras de pedra rústica; guirlandas enfeitadas com fitas vermelhas substituíam os quadros de cantores de ópera famosos; pisca-piscas foram colocados estrategicamente para parecerem vagalumes descansando no meio do salão; um frondoso pinheiro majestosamente atraía os olhares daqueles forasteiros que entravam no restaurante e logo davam de cara com ele. Os funcionários usavam aventais e domas com detalhes natalinos: bordados em verde e vermelho, maquiagens com tons de dourado e muito, muito glitter para todos os lados. Em vez das tradicionais músicas italianas, os alto-falantes gritavam versões pop de Jingle Bells. O cheiro de canela e assados poderiam ter sido pulverizados no ar de tão presentes. Mas, o que não estava presente nessa atmosfera inebriantemente encantadora - e enjoativa - era você. Já se passava meia hora do nosso horário combinado. Pergunto-me quanto tempo você me esperaria se estivéssemos em posições invertidas: dez minutos? Duas horas? Estava sendo exigente demais? Estava negligenciando a mim mesma? O garçom bonitinho me olhou aflito. Estaria ele preocupado comigo? Mostrava a sua piedade por uma mulher bem-vestida, que tomava a sua terceira dose de vinho, enquanto tragava com os olhos o estacionamento? Queria o meu número de telefone? Ou queria que eu pedisse algo substancial para que pudesse garantir a sua gorjeta natalina? 20h45. A família na mesa ao lado se levantou para ir embora. O menininho passou a manga do suéter listrado pela boca melecada de mousse de chocolate. Não pude conter um suspiro. Senti a minha garganta queimar, controlando as lágrimas que lhe subiam torrencialmente. Pobre barreira de contenção... Inutilmente, se esforçou. Porém, não conseguiu evitar que as lágrimas irrompessem por meus olhos vazios que já não mantinham o brilho esperançoso de antes. Não queria estragar a maquiagem que reproduzi tão fielmente às inspirações do Pinterest que salvara por tantos dias. Estraguei. A minha mão se pintou de vermelho, preto, dourado... Não queria amassar o vestido que comprara apenas para aquele dia, o decote quadrado, o tule era uma rede de strass diminutos. Amassei, amassei com as minhas mãos nervosas que torciam o tecido em espirais. E, principalmente, não queria pensar mal de você. Pensei; vislumbrei você chorando, encolhido, enquanto eu lhe dizia impropérios vulgares, jurando não te amar, jurando que te abandonaria, jurando que você não estava à altura da mulher que eu era. O garçom bonitinho percebeu minha consternação e discretamente veio até a mim. Perguntou se eu estava bem, se eu queria que ele me emprestasse seu telefone para ligar para alguém. Olhando em seus olhos azuis, recusei. Ele disse que buscaria uma água com açúcar e desapareceu na movimentação marítima de bandejas e pessoas. Derrotada e envergonhada, decidi me afundar na visão da janela; assim, se eu não olhasse para ninguém ao redor, a minha mente sentiria que eu era invisível, transparente. A rua já estava completamente coberta pela neve fofa. Os transeuntes não se arriscavam mais a perambular sem rumo. O poste de luz, imperativo, esparramava uma luz alaranjada por tudo, palco para os efeméridos flocos de neve que dançavam no palco vazio entre o céu e o chão. Foi quando, repentinamente, Deus Ex Machina, você surgiu. Levantei-me tão rapidamente que não vi o garçom se aproximar e derrubei toda a água que me trazia em seu avental verde Grinch. Deixei na mesa o meu celular, a minha bolsa, a meia taça de vinho espanhol, a minha dignidade. Abri a porta com força, tropecei nos degraus, procurei estabilidade na chuva congelada. Do outro lado da calçada, você sorria, segurando algo atrás das costas. O cachecol azul tremulava ao redor do pescoço. Me disse algo, não entendi. Era o seu pedido de desculpas? Segurou o meu rosto suavemente, enrolou a minha franja na ponta dos dedos, tudo o que eu podia sentir era o cheiro amadeirado de seu perfume sazonal. Então, segurou algo em cima da minha cabeça: era um ramo de visco. Olhei para você, intrigada. Você sorriu novamente, curioso, com... Medo? Sim, detectava a minha velha companheira também em seu olhar: a ansiedade abraçava-lhe, sussurrando dúvidas em seus ouvidos sempre tão destemidos, sempre tão companheiros. Quando olhei para o movimento em sua mão direita, notei que ela também tremia levemente enquanto segurava um objeto circular. Em meio à neve, às portas do Natal, você me pediu em casamento. E eu aceitei.
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uma noite fria às 4h40 da manhã. dois jovens caminham pela rua. ela, de fones de ouvido, sorri pela segurança que sente ao crescer junto a ele. ele, vacilante, carrega a ansiedade urgente no peito de um coração que se trancafia contra a vontade. amigos de infância, dezenove anos. ela não sabe o que é amar com furor, verdadeiramente... ele não sabe o que é amar honestamente, sem freio... eles se olham e a neve congela no espaço de uma respiração acelerada. uma balada de amor não correspondido. --------------------- * este pequeno (e singelo) poema foi escrito com base no k-drama "Soundtrack #1", disponível no Starplus.

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O som de cascos derrapando pode ser ouvido a um raio de cem metros. A noite estava escura, como se estivesse à espreita predadora de algo, silenciosa. O chão de cascalhos soltos não lhe dava a estabilidade ideal para um passeio à cavalo mas, mesmo assim, Jorge escolheu sair um pouco de casa a fim de tomar um ar fresco naquela noite abafada de verão. Insetos rondavam-lhe as pernas desnudas, zanzando em volta das orelhas de seu companheiro de anos, amigo de infância, montaria puro-sangue. Na estrada vazia, o interior de São Paulo lhe sussurrava acordes naturais assustadores. Os grilos faziam a festa costumeira por entre as moitas de mato queimado nas pontas, os sapos coaxavam na lagoa a noroeste. Sozinho e calorento, Jorge seguiu pela trilha que não lhe era tão amiga.

A cada passada que seu cavalo dava, triturando as pedrinhas, espantando seres rastejantes que saíam de suas tocas; o aventureiro inspirava o ar moroso e rememorava os acontecimentos do dia. Anya havia chegado da capital, após uma viagem de intercâmbio ao exterior. Estava cheia de maneirismos estrangeiros, a sua mãe dizia; pintara as pontas do cabelo de azul royal, espremia os olhinhos castanhos quando tentava se lembrar de uma palavra em português para uma correspondente em inglês (mesmo que tivesse ficado por apenas três meses no Canadá e seu conhecimento na língua ainda fosse mediano), soltava piadas que ninguém entendia à mesa de jantar. E o pior de tudo, esbravejava sua mãe com os dentes cerrados: pegara a mania de gente metida de não comer nada que viesse de origem animal! Que traição à família, Anya!

Jorge sorriu. Lembrar da irmã caçula com a caçarola de salada nas mãos, entuxando vegetais aos montes na boca, quando lembrava ainda de sua cara de desconfiança, pequenina, ao ser apresentada ao brócolis, fazia-o sorrir. Anya e Jorge eram inseparáveis, afinal, ele era apenas um ano mais velho que ela e, morando tão longe de tudo, sua irmã era a única outra criança disponível diariamente para ele brincar junto. Mesmo agora, adultos, e mesmo depois do tempo em que ela passou no estrangeiro, Jorge e Anya cultivavam a ligação fraterna que possuíam desde sempre. Era por isso que Jorge matutava ansiosamente em como contaria a ela que iria se casar em breve; o pedido de que ela fosse a sua madrinha teria que ser mais do que especial.

Imerso em pensamentos, Jorge não sentiu quando seu cavalo escorregou mais uma vez. Ambos andavam já há mais ou menos uma hora, mas o jovem sentia que o tempo estava se esticando como elástico de pontaria. A lua cheia dava sinais de um deslocamento sutil no firmamento e o ar esfriava um pouco, ainda que o calor fosse um personagem em si daquela trajetória. A monotonia daquela escapadela só foi quebrada quando, ao longe, Jorge avistou uma casa. Destacada em um vale, a casa ostentava uma varanda minúscula, como que uma pérola incrustada em uma concha negra, iluminada por uma lâmpada alaranjada. Entre o cavaleiro e a casa não haviam muros ou cercas, apenas um jardim de dentes-de-leão.
 
De uma forma estranha, a varanda atraía Jorge. Ela lhe parecia familiar, ainda que a sua cabeça latejasse ao tentar se lembrar do porquê. Como se estivesse hipnotizado, ele guiou o cavalo para perto da casa, ignorando a invasão que fazia de uma propriedade alheia. Como às pedras da estrada, os dentes-de-leão eram esmagados um a um pelo peso de ambos. Aproximando-se, Jorge podia ver que a varanda não estava vazia de todo: duas cadeiras compunham a decoração, pesadas em madeira de lei, o estofamento era bordado em tons de vermelho. O chão, também de madeira, parecia ter sido lustrado pelos moradores e refletia a luz elétrica, dando a tudo um ar de melancolia em chamas.

E, então, Jorge puxou as rédeas do cavalo e parou ao pé da escada de dois degraus que levava à varanda. Sentia um gosto amargo na boca, já seca de tanto zanzar pela estrada poeirenta. Passou a mão pelos cabelos aloirados, afastando os fios que estavam colados à testa. Cansado, o cavalo bufou. Jorge entendeu o recado do amigo e desmontou, mas as pernas bambeavam e a aterrisagem não foi muito elegante: Jorge tropeçou e caiu, cortando as palmas das mãos no chão desregular. Inquieto, logo se ajeitou, após alguns impropérios nada ortodoxos proferidos aos vigilantes invisíveis da madrugada. Mais de perto, ele percebeu que dezenas de siriris minúsculos valsavam em volta da lâmpada incandescente.

Entorpecido, o jovem decidiu subir os dois lances que o separavam de seu tesouro precioso. Achou familiar quando, com seu peso, o segundo degrau rangeu, revelando algumas farpas assustadoras. Ainda assim, podia sentir o coração esmurrando-lhe o peito, as mãos pegajosas e os pelos da nuca se eriçando. De repente, ele deu uma gargalhada: como se tornara um protagonista de clichê barato de filme de terror em tão pouco tempo? "Calma, Jorge, se controla". Mais uma passada de mãos pelos cabelos, um tique nervoso que tinha desde criança. Já dentro da varanda, ele começou a procurar pelo interruptor. De algum lugar, uma voz lhe dizia que ele deveria apagar aquela lâmpada. Girava em torno de si mesmo, tateando nas colunas de concreto por uma saliência que lhe desse o prazer de ver aquela varanda obscurecida, iluminada apenas pela lua.

Nada. Nas paredes, nada havia. Jorge piscava mais vezes do que o normal. O cabelo, já estava com um aspecto gorduroso, lambido para trás. Uma coruja piou, empoleirada na árvore retorcida à sudoeste de onde estava. Foi, então, que ele lembrou: a casa poderia ser antiga, portanto, deveria haver outra forma de ligar aquela maldita luz alaranjada. Expirando fortemente para expulsar o desconforto que a situação lhe causava, Jorge olhou para cima e viu, pendendo languidamente à esquerda da lâmpada, uma corda.

Seus olhos se iluminaram. Não sabia o porquê de querer a apagar, só queria. Na verdade, precisava. Precisava apagar a lâmpada. Com os passos mais firmes, caminhou em direção à corda. Ao tocá-la, uma dor aguda atingiu a base de sua coluna. Jorge se ajoelhou, consumido por uma dor que nunca havia sentido antes. Do lado de fora, seu cavalo, incomodado com os gritos desesperados do amigo, relinchava. Depois de longos segundos, eternos segundos, a dor passou tão inesperada quanto surgiu. O rosto belo de Jorge estava agora transfigurado pelo ódio: desligaria aquela lâmpada nem que demorasse a noite inteira! Ele se levantou e caminhou, vacilante, até a corda marrom que balançava pendular. 

"Jorge"... 

Alguém o chamava? Ouvira bem? Envolveu a corda com a mão direita.

"Jay" ...

Seus olhos se arregalaram. Este não era um apelido comum, apenas a sua noiva o chamava assim. Estaria ele imaginando coisas, após o lapso de dor que sentira há pouco? Não, as vozes se amontoavam, chamando-lhe aos sussurros das mais diversas maneiras agora. Ele podia ouvi-las nitidamente, tão insistentes, tão angustiantes... O tom aumentou, já eram gritos. Gritos que rondavam a sua cabeça como os siriris que rondavam a lâmpada. Jorge batia em seus ouvidos, tentando silenciá-los. E, então, ele percebeu que eles vinham da lâmpada. Desesperado, puxou a corda várias vezes, tão forte que ela se soltou em suas mãos.

A varanda, no entanto, permaneceu acesa. Jorge ofegava, suando, enrolado sobre si mesmo. Os chamados já não o incomodavam mais, haviam cessado. Mas, a lâmpada continuava a brilhar e ele, agora, podia ouvir o chiado monótono da eletricidade que emanava dela. "O que eu estou fazendo?". O que ele estava fazendo? Tentando destruir uma lâmpada solitária no meio do interior paulista? Qual era o propósito daquilo tudo? Jorge tentou se levantar, no entanto, sentia um peso estranho em seu braço direito. Ao olhar para ele, notou que havia inchado um tanto e apresentava uma estranha coloração arroxeada, esverdeada. Olhou para trás. Seu cavalo permanecia rígido em seu posto, tenso pela situação que não lhe era habitual.

E, então, Jorge sentiu uma pressão gelada na nuca. Uma mão o convidava a se virar novamente. Em direção à lâmpada. O jovem só não havia desmaiado ainda, pois a adrenalina o mantinha eletrizado. Ele só queria dar um fim àquilo, ir para casa, deitar em sua cama quente e acordar, no outro dia, disposto a ser uma pessoa melhor do que já fora. Mas, sabia - sem saber o por quê - que tudo só teria fim quando apagasse aquela maldita, estúpida, teimosa lâmpada! Jorge decidiu que deveria desrosquear e dar um fim físico à luz nojenta que saía de lá, rastejante. A mão invisível o guiava, gentil, ao seu propósito. Jorge voltou a rir descontroladamente. Chorava enquanto ria. Tremia enquanto chorava.

Sem se importar com o calor insuportável que emanava do bulbo da lâmpada, ele a pegou com a mão esquerda, mesmo que ela não fosse a sua mão costumeira de trabalho. Girou alguns milímetros e, então, a dor insuportável nas costas voltou. Mordendo os lábios até que gotas de sangue lhe pintassem os dentes alvos, Jorge não desistiu. Lentamente, girou mais um pouco. Sentia a lâmpada amolecer entre seus dedos, porém sentia muito mais. De repente, o seu ombro esquerdo explodiu em estrelas doloridas. Assustado, o jovem relanceou o olhar por ele e viu que a sua carne se abria, expondo seus ossos.

Jorge gritava. O seu cavalo forçava a corda que o prendia à árvore em que o seu dono o havia amarrado. Quase sem forças, o jovem usou um último esforço hercúleo para tirar a lâmpada de vez do bocal improvisado. Ela, então, se soltou e atingiu o chão no mesmo momento em que Jorge o fez.

A pequena varanda era iluminada pela luz da lua cheia. No ar, viajava apenas o barulho ressonante da natureza. No entanto, o ouvinte mais atento poderia se ligar no som de duas respirações fracas. Uma vinha do lado de fora, a outra, de dentro da varanda. Uma deu sinais de seu último momento, embalada pela pureza própria aos animais fiéis, a outra, resistia teimosa. Teimoso, Jorge olhava para cima, para a escuridão que tanto custara a ter de volta. A perna direita era uma massa indistinta de carne e ossos triturados. Triturados como o cascalho, triturados como os dentes-de-leão do jardim. Resfolegava, sentindo o gosto metálico do sangue que lhe invadia a garganta. Com os olhos marejados, olhou para cima.

O teto da varanda, que também era feito de madeira, guardava teias de aranha que brilhavam com a luz da lua. Jorge as contou, enquanto se lembrava de sua família. Uma... Seus pais, pessoas simples, mas que sempre amaram seus filhos de forma justa e correta. Duas... Anya, sua querida irmã, sorrindo para ele sempre que zeravam o vídeo-game enquanto comiam salgadinho barato. Três... Carmela, sua noiva, linda em cachos vermelhos, desafiando-o para trilhas arriscadas na praia. 

Quatro...

... e a mente de Jorge já não estava mais na varanda. Lembrava-se da sensação do chão de terra embaixo de si, das unhas sujas e das estrelas, um manto divino acima dele. Lembrava-se de seu cavalo, do amigo que jazia ao seu lado com o pescoço torcido em um ângulo anormal, enquanto que uma poça de sangue tingia de vermelho escuro as pétalas amassadas. Jorge se lembrava do escorregão, da queda... A dor insuportável reverberando em seus ossos expostos...

E quando tudo parecia estar perdido, surgira o caminho até ali. A lâmpada atraente, o ar que insuflava seu peito, antes em pó. Se tudo havia acontecido de verdade, porque ele estava ali? Se tudo aconteceu, por que ele morria novamente? Jorge, então, olhou para os cacos de vidro que jaziam ao redor de si... Enquanto tudo escurecia, ele ouviu alguém lhe chamar pelo nome.

...

- Três reais e quarenta e nove.

...

- Quer sua via?

- Não precisa, obrigada.

- Obrigado e volte sempre.

...

- Cheguei, mãe!

- Anya, que bom. Conseguiu achar a lâmpada?

- Sim, depois te dou o troco...

- Não precisa ver isso agora. Vai lá entregar ela pro seu pai. Ele já tá esperando na varanda.

- Pai!!

- Tô aqui, querida. Vem que já estou com o esquema pronto pra deixar essa lâmpada fixa agora. Não sei como ela quebrou da última vez...

- Deve ter sido um bicho, sei lá... Ou um idiota fazendo gracinha, enquanto a gente tava viajando...

- ... mas agora, não vai quebrar mais! Vem, dá aqui...

...

- Pronto!

- Deu certo, querido?

- Hum.

- Já faz mais de um ano que ele... Vocês realmente acham que isso vai funcionar? Que ele vai voltar por causa dessa lâmpada estúpida?

- Anya!

- Não, querida... Anya, filha, se seu irmão está perdido por aí..! Se ele está perdido..! Vai conseguir achar o caminho de volta para casa. Temos que acreditar!

...
...

- A lâmpada é a única garantia que temos de que seu irmão voltará para casa são e salvo. Vivo..!

- Mas, e a última que já se quebrou... Isso significa que..?

- Anya, por favor...

- Mas, se quebrou! Se quebrou e meu irmão não voltou!

- Por isso que estamos a substituindo... Desde que a varanda permaneça acesa, teremos uma chance de seu irmão voltar.

...

A lenda da varanda iluminada é conhecida, até hoje, por aquelas bandas. É dito que se você passar em frente ao vale, poderá notar uma casa iluminada incrustada na escuridão. E se prestar bem atenção, no silêncio das noites de verão, junto com o coaxar dos sapos, ouvirá a estática da lâmpada sussurrando um único nome.
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"Carlos acordou e fritou um ovo..." A cozinha vazia o incomodava. Pés descalços, o chão frio corroborava para a sensação de desolação que os ladrilhos manchados de gordura lhe causavam na espinha. Em seu desespero para achar o interruptor, seus olhos bateram no relógio digital que descansava no batente da pia: 03:00. Um barulho vergonhoso reverberou em seu estômago. Ele estava com fome, o que poderia fazer? Não era dado a lanches noturnos, mas algo no canto platônico da coruja o convidara a se levantar naquele dia. Rolou pela cama, desvirou o travesseiro, estralou os dedos dos pés... nada. Bebeu água. Coçou a cabeça. Nada. Tentou até mesmo contar carneirinhos, mas nada, nada, nada. O estômago o incomodava, tal qual aquela cozinha maldita, herança de família, semi-tombada, com seus azulejos brancos de hospital e móveis de segunda mão. E, agora, lá estava ele com medo dos fantasmas da madrugada, tateando desesperadamente a parede para encontrar o interruptor. Quando a luz se fez, a sensação de vazio ainda permanecia nele. A fome tornou-se mais insistente e passara a cavucar o espacinho molenga que existia no encontro da cabeça com seu pescoço. Ele, então, decidiu que era a hora. Deu três passos para frente, à iminência de trombar com a mesa de ferro retorcido. Cinco passos para o lado, em direção ao relógio que tiquetaqueava acompanhado da foto de perfil de cantores sertanejos. Mais quatro passos para a frente e lá estava: a geladeira. Abriu. Mas, que raios de luzinha amarela que só liga quando a porta da geladeira está aberta? Ou será que ela dormia, escondida, em plena incandescência, atrás da porta fechada? Pegou o ovo. Com a outra mão, agachou-se para pegar o azeite. Botou ambos na pia. Bocejou. Se estava cansado? Deveras. Mas, como poderia estar outra coisa senão em pânico naquele momento? Sentia o coração marchar dentro do peito. O ar começou a rarear. Precisava fazer logo aqueles ovos mexidos. Ligou o fogão. As cascas que se partiram não eram simétricas. O cheiro de gordura o inebriou de pronto. Alguns minutos e a cozinha não lhe parecia tão assustadora mais. O ovo tinha sabor de recreio e correria. Mas, o que isso importava? Passou pela pia e jogou o prato vazio. Amanhã o lavaria junto com a louça do café da manhã. Sem o ovo, a sensação incômoda retornara a seu peito. Amanhã, não comeria ovos no café da manhã. Quando chegou ao interruptor, sentiu os pelos da nuca se eriçarem... Antes de cair com um baque carmim no chão encerado, olhou para a pia. A louça permaneceria suja. O ar continuaria a rescindir a gemas e claras. ------------ Gregório Duvivier me convidou a criar... Esta é a minha versão de "O ovo". Se quiserem ler as versões que ele criou utilizando as vozes narrativas de autores consagrados, acessem: https://m.folha.uol.com.br/colunas/gregorioduvivier/2013/11/1372847-o-ovo.shtml
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a minha criatividade está bloqueada... e nem k-drama consigo assistir mais. voltei a ler bastante, uma vitória. o canal 55.1 da tv aberta é excelente à noite. velas aromáticas soltam o perfume por onde se elas não queimam como incensos? nunca tinha prestado atenção que Pinóquio tem tantos vilões. romances tristes e reais são meus preferidos no cinema. é inacreditável que Home se tornou minha música preferida do BTS. gelatina não fica gostosa para dar sabor ao bicho de pé. a minha criatividade está bloqueada. e é este fato que te faz ler esse texto desconexo e banal agora. será que ter aulas sobre criatividade ajuda a despertar a criatividade? ou a enterra no pior lugar do chiado mental, como faz com matemática? se eu voltar em breve, é porque ela voltou. sem criatividade bloqueada.
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 Amava a lua solitária / que aparecia no céu escuro de verão./Embaixo da tenda de lona barata,/ouvindo o chiado de uma remota transmissão,/olhava o céu e imaginava que as estrelas eram cardumes/e o céu, tão denso quanto o profundo oceano./Não sabia sobre o espaço e nem sobre os outros planetas/e os satélites; estes, sim, tão pavorosos quanto os navios naufragados./Também não sabia que as estrelas que ele via nunca poderiam ser como peixes,/talvez como iguanas, pinguins e humanos, talvez;/pois esses não têm guelras e se afogam na selva líquida/e as estrelas, como Inês, no vácuo espacial também são rainhas mortas./Mas, do céu noturno, que raios queria aprender?/Conhecimento é para ambientes fechados, o céu, queria apenas contemplar./Amava a deusa virginal e guerreira por entre vinhos e poesia/numa noite de domingo.
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 Ele só sabia amar em borboletas  Leve, divertido e vaidoso era o seu olhar  Tal como frágeis asas,  Ruflava as amostras de paixão a que ele a presenteava.  Ele só sabia amar em borboletas  E as prendia em seu jardim de inverno como lembrete  De que se apegar é um sinal de fraqueza  Mas, cultivar um pequeno séquito, é do poder, a certeza.  As asas que levava tatuadas em seu pescoço  Germinavam em panapanás no estômago dela  E ela sabia que aquele não era um amor seguro,  E, entre mármores e argila, chorava  Por um coração dilacerado por asas tão finas  E um futuro seguro construído na infância,  despedaçado.  Mas, ela decidiu sair do casulo  Brincar de borboleta, mesmo tendo asas rígidas pela insegurança.  Rodeou o homem-borboleta para perdoá-lo  Ele, amadurecido pelo amor que tinha por ela, perdera suas asas  E voltara a ser lagarta, comum e natural, como punição.  Quando a nova borboleta o perdoou, ele caiu em lágrimas,  Lágrimas salgadas que, antes, misturara com um sorriso doce  Não esperava ganhar, após inúmeras derrotas  Ganhou, chorou.  Ela decidiu amá-lo.  Ou melhor, ela aprendeu a se amar.  Queria viver um romance intenso como a brevidade  E perdurar a alegria eternamente, enquanto durasse.  E os dois fecharam o relacionamento  Com o selo da confiança de que ele, instável,  Não criaria mais nenhum outro inseto.

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A água que vinha do teto batia ruidosamente no chão. Lá se formava um espelho d'água meio bolorento, o limo verde crescia por entre as tábuas de madeira carcomidas pelo tempo. Em um ribombar aquoso, a goteira passava por entre as vigas que compunham a estrutura do segundo andar da casa. Deste ambiente outrora luminoso e feliz, sobrara apenas um palanque de madeira - tão carcomido e cheio de fiapos quanto o chão de baixo - e algumas peças de roupa que haviam servido de banquete às traças, logo na primeira semana de abandono da casa. Se o leitor a tivesse conhecido antes, quando, em seu auge de casa principal da rua, o barulho de festa e felicidade saía de seus poros; ele veria o quão bela era a porta da entrada principal, pintada de verde musgo, em contraste com o branco alcalino das paredes. Ele veria, também, o esmero dos donos em cultivar pequenas jardineiras nos parapeitos das janelas; e veria, com um sorriso bobo no rosto, que a casa era um tanto pequenina se comparada à imensa árvore que semiobstruía a entrada da garagem. Mas, agora, a casa era apenas um borrão triste de sua própria primavera. Abandonada à própria sorte, os degraus, que levavam o visitante até a porta da frente, haviam se desfeito em cupins gordos. Teias de aranha interligavam as paredes internas da sala, tobogãs sinistros de Viúva. A cozinha já não exalava mais aromas de biscoitos de mel e limão; tudo o que se poderia sentir era o cheiro rançoso de baratas sendo devoradas por formigas insensíveis. E os quartos, três no andar de cima mais um banheiro, tiveram seu curto reinado arruinado por ratos magrelos de pelo de algodão. Quão satisfatório era quando eles guardavam sonhos e choros em suas quatro paredes... Os sonhos de promoção no trabalho da mãe. Os choros de filmes comoventes do pai. Os sonhos e choros das duas irmãs, unidas pelo nascimento na mesma data, desunidas por o lugar de atriz principal no teatro da escola. Na casa inteira, eram os quartos que mais sentiam saudade de quando o céu não era cinza. Tão tristes eles se sentiam que, nas noites estreladas, eles choravam baixinho e a casa rangia, estalava e permitia que o vento frio entrasse em seus aposentos com o som de vultos espectrais. Mas, ó, o que seria isso? Uma forma estranha passara correndo pelo corredor! Eram sons de passos que se ouvia? Os cacos de vidro - sobras dos espelhos dourados que ali enfeitavam - que estavam espalhados pelo chão, porém, não sentiam o peso de alguém os quebrando. E o que dizer do bruxulear que vinha da sala? A casa sentia que estava viva novamente! Podia sentir o aroma de lavanda do perfume que a sua dona usava... E ouvir um som. Vozes distorcidas conversando na sala. O diálogo complexo de seres imateriais.
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Outubro é um dos meus meses preferidos do ano. Aliás, gosto de todos aqueles que trazem consigo comemorações especiais, celebradas em meio a filmes, livros e decorações que você só encontrará naquele momento. Fevereiro é assim, trazendo o Carnaval; abril, com a Páscoa; dezembro e o seu Natal. E o outubro, timidamente e de forma forasteira, transformou um mês comum para a cultura brasileira em um mês de alta demanda por máscaras horripilantes na 25 de Março, programações televisivas com a ressuscitação de filmes B de terror dos anos 1990, e um TikTok repleto de vídeos com dicas de maquiagem artística. Outubro trouxe consigo o Dia das Bruxas. Para os íntimos, Halloween; para os ufanistas, Dia do Saci; o que importa é que Outubro se tornou o mês da celebração de tudo o que é assustador, creepy, gore, slasher. E, claro, não conseguiria ficar de fora dessa onda: eu adoro o Halloween! E estou muito contente que, neste ano, apesar de toda a situação pela qual estamos passando, sinto que estou comemorando o Halloween de uma forma mais intensa. De fato, sinto o sangue gore correndo quente pelas minhas veias! Hahahaha. Por isso, quis compartilhar com vocês por aqui as atualizações do meu mês "Outubro do Terror". Também aproveito para deixar a sugestão de vocês compartilharem as suas comemorações de Halloween comigo lá nos comentários! Vou adorar ler o que vocês estão fazendo e, quem sabe, não tento algumas coisinhas e posto por aqui (ou lá no Instagram do blog @apequenaratinha)? :)


- Finalmente terminei a leitura de A Academia Sobrenatural Brasileira de Letras, da Darkside! Estava enrolando com esse livro desde outubro do ano passado, mas, senti que este ano precisava ler novas histórias de terror e decidi maratoná-lo. E sabe o quê? Este livro é incrível! A Darkside reuniu alguns contos de terror brasileiros de autores consagrados pela ABL, formando uma coletânea horripilante. Sério, pessoal, não tenham preconceito: os contos de terror nacionais são muito, muito bons! Não devem em nadinha às histórias hollywoodianas, com o adicional de falarem diretamente com o nosso imaginário coletivo. Se quiserem, posso fazer uma resenha desse livro para vocês, é só deixar nos comentários um "sim, ratinha!".


- Decorei o meu quarto com meus bordados de Halloween! Eu fiz três modelos: o meu xodózinho é o do Wirt, o irmão mais velho da animação "Over the Garden Wall"; mas, também bordei a Boo de "Monstros S.A." e uma frase de "Coraline". Para o ano que vem, pensei em bordar um quarto modelo e completar a carrerinha de suportes que tem no meu quarto, mas ainda não tenho ideia do que bordar. Vocês teriam alguma sugestão?


- Na quinta-feira que vem, conversarei com a minha amiga de forma online e a gente vai fazer uma Halloween Radio para comemorar. Ou seja, tenho que procurar algumas músicas horripilantes para compartilhar com ela. Estou me esforçando, mas está difícil hehe. Vocês conhecem alguma música de terror?


- Estou feliz também que, finalmente, poderei fazer a maquiagem de Pierrot neste ano! Esse é um desejo que está na minha Wishlist há tempos e, neste ano, como participarei de uma festa de Dia das Bruxas online, vou poder tentar reproduzi-la. Já peguei algumas referências no Pinterest e no YouTube, espero que os meus dotes artísticos estejam no ponto no dia 31.


- Finalmente, falando sobre os filmes de terror que assisti até agora... Ainda estamos na metade do mês, então, tenho tempo de ver vários outros filmes. Porém, até agora, já relembrei vários filmes de terror lá no Disney Plus. Assisti a "Halloweentown", "Upside Down Magic" e "Abracadabra". Não sou muito fã de filmes de terror, terror - porque tenho medo mesmo - então, fiquei aliviada de ter a opção de assistir a esses filmes mais light. Só ontem que tentei superar essa barreira e assisti a "Nós" (Us), do Jordan Peele. Olha, muito bom, mas adivinhei o Plot nos primeiros minutos de filme e, também, não consegui olhar para o espelho durante o resto da noite hahaha. Assim que for assistindo mais filmes de terror, vou compartilhando com vocês lá pelos stories.


- Por último, mas não menos importante, entrei na febre "Round 6" e assisti ao primeiro episódio desse dorama! AAAA, estou radiante de que um D.O.R.A.M.A está em primeiríssimo lugar na Netflix Brasil!! Um D.O.R.A.M.A!! Ainda vou tentar maratonar "Alice in Borderland" até o final de outubro, outro dorama de terror no estilo "Round 6" disponível na Netflix... Prometo ir dando atualizações!
E é isso, pessoal. O mês de outubro está indo de vento em popa, não? Não esquece de compartilhar comigo a sua agenda de Halloween também :) Beijos açucarados e au revoir.

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Cinza chumbo, o firmamento sangra em cores transparentes. O ar espalha aromas de gordura e cominho. Unhas tingidas de vermelho, conversas vazias de baby boomers, ansiedade trabalhando em 120 km/h. É sexta-feira, o dia da deusa-mãe Frigga. Por entre linhas coloridas, ele espreita. É dia primeiro e ele já espreita... Voraz, sadio, nostálgico, sorrateiro; com quantas páginas, neste ano, ele será feito? Espreitando, em tom baixo, sussurrado, está o medo. Chegou outubro. E ela sabe das suas inspirações de escrita: o primeiro ocupante da cadeira 36. - - - - - - bem-vindo, outubro. vamos a mais um mês de terror no blog? neste ano, eu preciso da ajuda de vocês! vocês poderiam compartilhar comigo um tema para que eu desenvolva um conto de terror? eu vou adorar ler as sugestões de vocês! beijos.
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O tamborilar monótono da máquina de escrever soava como tiros sendo disparados. Um parágrafo, um novo carregamento. À frente dela, estava uma alma perturbada por amores não correspondidos e uma traição. Não havia entregado o líder, mas o melhor amigo. Morto com um tiro - quem mais conseguiria, por suicídio - entre formações rochosas distantes. E o escritor furioso da máquina incansável por ela aguardava. Sentado, digitando um romance póstumo, em seu rosto brilhava o dourado do relógio de bolso que descansava na mesa. Relógio que também não era dele, mas do amigo morto. Assim como o coração dela. Se o ritmo da datilografia se confundia com o pulsar em suas veias, os passos que ela dava eram as notas erradas naquela composição. E se as notas erradas, em uma música, geram aflição; aqui, nessa cena carregada por tensões, não seria diferente. O escritor já não podia mais ser indiferente. Parou de digitar. Os ouvidos apurados por entre conversas de bar e revoluções, pela última vez, ouviu o 'clanque-clanque' da arma sendo engatilhada. E, então, seus olhares se encontraram como o rio e o mar. As mãos dela tremiam, denunciando os sentimentos que seus olhos argutos tentavam disfarçar. Gentil, o escritor direcionou-a para fazer aquilo que ela precisava fazer. No ar, pairava um amor não correspondido, uma traição e a presença etérea do homem que os ligava. A mão dela já não tremia mais. O que se ouviu foi um disparo... Ou seriam as palavras finais do romance que ele vinha escrevendo? Na sala escura, as cortinas beges deixavam escapar alguns raios de sol que iluminavam a cena. Em um canto, uma mulher chorava por seu coração dilacerado. E o sangue escorria como cachoeira por entre os declives das teclas douradas de uma máquina chamada Chicago Typewriter.

- Conto inspirado no kdrama "Chicago Typewriter", produzido pela tvN em 2017.
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Chicago Typewriter é um dorama que estava há séculos na minha lista. Mas, sempre o deixava de lado com as desculpas mais diversas: "primeiro, vou assistir a esse dorama novo"; "olha, um dorama com meu ator preferido aí, vou assistir"; "esse pôster parece meio estranho, vou deixar para depois"... E, assim, Chicago ia ficando para trás nos antros mais profundos da Netflix. Até que, em uma noite em que estava de bobeira no TikTok, um vídeo surgiu anunciando uma revolução na minha vida de dorameira: o vídeo dizia que Chigago Typewriter ficaria disponível na Netflix até o dia 30 de setembro só! Não deu outra... Aquela era a chance perfeita para eu desencantar esse dorama!

E acabou que, duas semanas e muito coração quentinho depois, Chicago Typewriter se tornou o meu dorama favorito de todos os tempos. Se na minha lista ainda existem os doramas canônicos intocáveis, Chicago chegou para ocupar a posição mais nobre depois deles. Se eu pudesse classificá-lo, diria que ele é o dorama que poderia assistir várias e várias vezes sem enjoar (o que é muita coisa para mim, já que não tenho o costume de rever ou reler coisas); ele é o dorama que recomendaria para qualquer um, desde os dorameiros mais antigos até as pessoas que nunca viram um dorama na vida; ele é o dorama que faz com que borboletas douradas voem pelo meu estômago só pela introdução. Portanto, Chicago é o meu dorama favorito até agora, mais de trinta doramas depois.


Depois de tantos elogios, vamos a um pouquinho da estória desse dorama? Não farei exatamente a resenha crítica dele hoje, mas se vocês quiserem que eu comece a falar mais sobre doramas por aqui, é só deixar um alô nos comentários e prometo que volto para dar minhas opiniões mais aprofundadas sobre Chicago também. Vai lá depois de terminar aqui, estarei esperando por vocês, hihi! Ok, concentração agora. Chicago Typewriter é um dorama de fantasia que alterna duas estórias em sua narrativa. A primeira é a história de Han Se-Joo, um escritor de romances policiais super famoso na atualidade, um pouco excêntrico e muito arrogante, que um dia viaja até Chicago e fica encantado por uma máquina de escrever antiga chamada, justamente, Chicago Typewriter. Ele, então, volta para a Coreia do Sul e após eventos misteriosos que acontecem com a tal máquina de escrever, ela é enviada como presente para a sua casa. Quem faz a entrega é a nossa mocinha, Jeon Seol, que trabalha como faz-tudo e se auto-intitula como a fã número 1 de Se-Joo. À partir daí, a vida deles se cruza por eventos do presente e do passado que revelam um amor trágico, uma amizade indestrutível e a luta por ideais de liberdade.

Assim, a gente passa para a segunda estória, que se passa justamente nesse passado que eles compartilham com um terceiro elemento, que não vou revelar por aqui para não dar spoilers, hehe. Eu gosto muito das duas partes desse dorama, mas os flashbacks que eles têm da vida passada me encantam demais. O cenário é dos anos 30, um momento histórico bastante importante e difícil da história da Coreia, pois é o momento em que o território está ocupado em colonização pelo Japão. Os nossos protagonistas fazem parte de uma Aliança Juvenil contra essa ocupação japonesa, então, podemos entender melhor sobre os esforços do povo coreano por sua liberdade e de como isso impactava no cotidiano comum das pessoas da época.


Chicago Typewriter é um dorama muito emocionante. Se você gosta de História, recomendo demais, já que história asiática é um tópico bastante distante das agendas de educação aqui no Brasil. E se você, assim como eu, gosta de romances trágicos... Bem, vou parar por aqui, hihi. Mas, se vocês quiserem saber em mais detalhes o que achei do dorama, deixa nos comentários que prometo voltar! E você, já assistiu a Chicago Typewriter? Gostou do conto que fiz inspirado nele? Um beijo e au revoir, pessoal!
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Ana saiu de casa em um dia de chuva. Borboletas aflitas recolhiam suas asas, enquanto os pingos grossos de chuva pela calçada caíam. Casas de muro alto brilhavam com os últimos reflexos de sol batendo contra o vidro molhado. Dante fechava a porta de casa quando escutou um grito assustado. Ela, uma garota misteriosa de curtos cabelos cor de mel, balançava as mãos de um lado para o outro em busca de equilíbrio. Fazia cena depois de escorregar em uma poça lamacenta perto da jardineira. Gargalhou, Dante, com um pouco de vergonha pela sua reação. "Havia alguém mais esquisita do que aquela moça?". Indignada, Ana foi em busca de satisfação. Jogou a bolsa surrada de lado, abandonou o guarda-chuva danificado em um canto e, com dedo em riste, se aproximou de Dante. "KKKK, foi isso o que eu ouvi, senhor?". Logo, Dante conteve a risada em um resfolego preso à garganta, assumindo um ar mais sério. "Me desculpe, moça. Não ri de você, não, apenas de uma mensagem que apareceu no meu celular". Nariz empinado, Ana soltou um breve "humpf!" para um Dante surpreso. Olhou para os dois lados da calçada deserta e foi atrás da moça de cabelos cor de mel. "Posso ajudar você de alguma forma?", Dante perguntou para as costas da jovem que se abaixava para recolher o inútil guarda-chuva. "Que siga com a sua vida, obrigada", respondeu Ana, balançando a franja recém-cortada, em tom de desafio. Rindo internamente, Dante pensou que a moça ficava muito bonita com as bochechas vermelhas de raiva. "Sem problema, moça. Mas, tenho um guarda-chuva que posso compartilhar com você... Poderia levá-la só até aquele ponto de ônibus ali ó", respondeu Dante. Torcendo a ponta desfiada do cachecol para que ele parasse de pingar em seus sapatos, Ana olhou diretamente nos olhos do rapaz. "Um dia o retribuirei pela ajuda, então, aceito. Sou Ana". Vendo mil jades nos olhos dela, Dante era um viajante de Stevenson que acabara de encontrar o seu tesouro perdido. "Xan... Van... Dante", respondeu, buscando apoio no cabo do guarda-chuva que abria com dificuldade. Yin e Yang ali se encontravam, presos no loop temporal que um dia de chuva provoca nos moradores de cidade grande. Web search por: falha na Matrix. Zás trás, que nada; são apenas dois enamorados.

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Dias chuvosos, plim, plim. Dias para responder a tags, sim, sim. Eu li essa tag no blog da Gabriela e decidi encarar um exercício de memória hoje. Espero que as nuvens cinzentas que apostam corrida do outro lado da minha janela não venham até aqui anuviar os meus pensamentos. Coragem, Bruna. Cala-te Bruno (o quanto eu fiquei triste pela Pixar ter escolhido esse nome para personalizar o medo em Luca, meu santo Loki...)! Mas, vamos lá :)  10 anos atrás  - 2011, tinha 13 anos e estava no ensino fundamental.   - Lia a creepy pastas (histórias de terror online) nas aulas de informática com as minhas amigas.  - Colecionava revistas Atrevidinha e entrava no site da Capricho para sonhar com as festas de debutante que eles publicavam por lá.  - Se não me engano, foi neste ano que adaptei o roteiro de Cyrano de Bergerac para uma peça da escola.  5 anos atrás  - 2016, tinha 18 anos e estava no cursinho pré-vestibular.  - Achei que seria o pior ano da minha vida, mas foi o ano em que mais aprendi de verdade sobre tudo.  - Comecei a me dedicar a tirar fotos bonitas para o Instagram.  - Percebi que ler romances não era tão ruim assim.  - Fiz uma lista dos meus sonhos da vida, porém, até hoje não cumpri um terço dela.  2 anos atrás - 2019, 21 anos e estava na faculdade.  - O ano mais agitado que tive até agora, pois comecei a estagiar.  - Comprei meus primeiros vestidos da Antix e, com isso, realizei um sonho.  - Lia muito e escrevia muito no blog.  - Fiz os meus primeiros vídeos jornalísticos e percebi que tinha ansiedade frente às câmeras.  1 ano atrás  - 2020, 22 anos, faculdade em plena pandemia.  - Passei meu aniversário com os amigos da faculdade, uma experiência única.  - Fiz vários cursos online.  - Virei a doida dos doramas e maratonei vários na Netflix.  - Descobri o BTS e virei fã em menos de dois meses.  - Bordei em quadros.  Neste ano  - 2021, 23 anos.  - Mais um livro favorito da vida adicionado à lista: Kafka a beira-mar, de Haruki Murakami.  - Cortei o cabelo depois de testar vários penteados que sempre quis fazer.  - Voltei a minha fase rockeira glam.  1 mês atrás  - Assisti ao duo melodramático Something in the Rain e Uma Noite de Primavera na Netflix.  - Desenhei com giz de cera um lago com patinhos muito fofo.  - Voltei a estudar inglês.  - Início do projeto Radio 98 com uma das minhas melhores amigas.  - Me apaixonei por uma voz.  Ontem  - Assisti a 100 days my prince na Netflix.  - Terminei de ler Kafka à beira-mar.  - Sorri com o fato do Taehyung ser fã de Arctic Monkeys, ou seja, meus dois universos musicais se chocando de forma linda.  - Fiquei surpresa com a mudança de ares do Ed Sheeran em seu novo clipe.  Hoje  - Respondi a uma tag no blog.  - Dia de assistir a uma animação nostálgica no Disney Plus.  - Feijoada, feijoada, uh hu.  No próximo fim de semana  - Estarei lendo Suicidas, do Raphael Montes.  - Ainda mais surpresa com a criatividade da série do Loki (?)
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Voltei com uma tag, pois as tags estão salvando a minha crise de bloqueio criativo nos últimos tempos. Tags são legais de serem respondidas em dias tristes também... Mas, vamos a tag. Ela foi criada pela Liz e achei a proposta tão interessante que logo abri a minha janelinha do Blogger para a responder: ela consiste em separar músicas marcantes da nossa vida a cada cinco anos, começando lá quando nós éramos pequeninas, até os dias de hoje (aos meus vinte e três anos). Vou tentar lembrar de todas! Então, bora lá? -----------  0 - 5 anos

     Dessa época, eu lembro de três grupos que me faziam dançar e colocar o CD para repetir a manhã inteira na sala: Rouge, Furacão 2000 e Falamansa. Sim, o meu gosto era bastante peculiar e bem brasileirinho. Pergunto-me quando as músicas estadunidenses surgiram na minha vida... hihi. Eu entendia o que as letras do Furacão 2000 diziam? Claro que não! Mas, eu adorava a dancinha do "vou passar cerol na mão, vou sim, vou sim" e a repetia na sala de casa sem nenhum julgamento. E aguardava pelo dia em que encontraria o meu amor na janela, assim como a música dos meninos do Falamansa prometia.  6 - 11 anos

  Ah, essa foi a época em que comecei a ouvir músicas estrangeiras... E também foi a época em que eu era a fã maluca de High School Musical na minha sala de aula! Confesso que esse período foi recheado de amores musicais e descobertas: ao mesmo tempo que ouvia Rihanna e Usher no rádio do carro, começava a pesquisar mais músicas do Green Day. Como eu fazia isso em uma época de internet discada que eu podia acessar só aos finais de semana, e ainda o YouTube funcionava à manivela mesmo assim? Não sei... Mistérios da persistência infantil que não me lembrarei jamais...  12 - 17 anos

   Ok, se, aos 11 anos, eu estava me descobrindo musicalmente; ao longo dos cinco anos da minha adolescência, eu tinha a plena certeza de que o meu gosto musical não mudaria mais. Eu estava muito enganada, porém, só a minha juventude na pandemia me mostraria isso... Por enquanto, atentemo-nos ao que a Bruna adolescente gostava de ouvir. Foi a época em que eu pesquisava no Vagalume por bandas indie que encorpasse a minha paixão por Arctic Monkeys. Então, eu descobri Foster the People e The Lumineers. Foi a época em que eu fixei o meu primeiro ídolo musical, que eu tenho até hoje no meu coração, o Mika... E me achava diferentona por gostar de Alexander Rybak, um cantor norueguês supimpa, diga-se de passagem. Eu comecei a coletar as minhas preciosidades vintage como The Smiths, Elton John, Guns and Roses, David Bowie... E ouvia escondida ao boom do Luan Santana e do Restart no Brasil. Se você perguntasse à Bruna dessa época o que ela achava de Justin Bieber e One Direction, ela te fuzilaria com o olhar... Mas, se você perguntar a Bruna de hoje, ela os tem na playlist sem ressalvas, hahaha.   18 - 23 anos

   Oh, oh, os meus anos dourados da música... Nunca soube tanto sobre ela e tive a playlist expandida para tantos gêneros diferentes como a minha fase jovem-adulta. De verdade, hoje em dia, eu pesquiso sobre prêmios de música, assisto aos festivais, acompanho os rankings de streaming... Estou me sentindo toda sabichona, hihi. Hm, sobre o que ouço atualmente, diria que é um pouco de tudo: sim, estou tendo a minha fase de army doida pelo BTS, porém, consigo visualizar os outros artistas também. Aurora, Harry Styles, IU, Maneskin, Jannabi, Jão... São esses os artistas que compõem a minha playlist de 2021.  --------  Acho que é isso, mes amis. Fiquei muito feliz de fazer essa viagem musical por mim mesma, então, adoraria saber a viagem de vocês também. Fiquem à vontade para comentar quais são as suas músicas preferidas atualmente! E, muito obrigada, Liz, pela tag tão especial que aqueceu um pouquinho o meu dia nublado :) Beijos açucarados e au revoir.
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Esse conto foi baseado no projeto que a Aione, do blog Minha Vida Literária, está produzindo. Por favor, assim que terminar a ler o meu texto, vá até o cantinho dela para a prestigiar. Está bem?
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Você apareceu como risos ao vento. Infelizmente, ainda não consegui discernir se você era o Timão ou o Pumba na relação que estabelecia com aquele a quem chamava de "melhor amigo". Unha e carne, carne e unha, os dois foram se aproximando do pequeno círculo de amigos que estava desenvolvendo a duras penas e me adotaram junto com ele. Eu te digo, caro anônimo, que quando, enfim, pude chamá-lo assim também - amigo - as nuvens sólidas em que pisava com meus pés sonhadores se dissolveram em felicidade gasosa e me fizeram flutuar. Por três anos, eu flutuei ao seu lado.

As suas piadas eram ruins. Hoje em dia, sinto a liberdade de lhe falar isso. Piadas de adolescente nerd que queria parecer descolado, piadas que poderiam estar em um show de stand-up qualquer. Eu ria, todos ríamos: você ficava feliz. Era isso. Mas, eu posso te elencar muitas coisas que não eram ruins em sua personalidade, cujas quais eu observava calada, enquanto tentava disfarçadamente potencializar. A sua extroversão, por exemplo, era admirável: todos te conheciam e ninguém tinha algo ruim para falar de você. A forma como você tentava deixar os seus amigos sempre felizes também era admirável... E a sua voz - tão bela, tão articulada - ainda ecoa pela minha mente quando me lembro de você.

Caro anônimo, você se encaixou nos padrões formados pelo meu subconsciente infantil, lá na época do meu primeiro amor, à primeira vista. Porém - eureka! - você também formou novos que eu tomaria como inspiração para a construção dos meus mocinhos de romance em RPG: se o amor de Coralina se realizou em uma peça de teatro, era porque este era o meu sonho também. Talvez, eu não devesse ter mentido para você dizendo que eu jogava RPG naquela época, pois, hoje em dia eu jogo, mas eu já não tenho mais você.

Se você me perguntasse, porém, o porquê de eu ter gostado de você, - naquela época em que o que mais importava para mim eram os livros e as provas pré-vestibulares - eu te diria que foi porque você sempre representou para mim tudo aquilo que eu queria ser, ao mesmo tempo que era tudo aquilo que eu queria curar. O seu sorriso significava mais para mim, porque eu sabia que ele era mais profundo do que você queria mostrar. A sua felicidade contagiante era uma vírgula de dúvida indecorosa em meu oceano amigo.

Parando para pensar, acho que eu realmente te amei. Porque, mesmo quando surgiu, na nossa sala, um anti-herói marviano, com as suas ideias revolucionárias e seus tênis Nike, disputando a atenção do meu consciente; todas as vezes que você se aproximava de mim, eu sentia um panapaná multicolorido abrindo asas em meu estômago e um quentinho em meu coração que se espalhava em tons carmim pela minha face tímida. Essa sensação não poderia ser explicada pela lógica; bom, talvez pudesse ser com uma música do Legião Urbana... Mas, eu não tive tempo: todo o tempo do show foi roubado, com um único fôlego, por você. Como eu poderia imaginar que, enfim, você encontraria coragem para cantar Faroeste Caboclo?

Caro anônimo, não se preocupe. Você já apareceu por aqui em outros contos. Não estou te expondo demais neste, pode ter certeza. Quer ver? "O ator terminou mais um espetáculo. Acredita na frase de Shakespeare. Ou será que acredita na releitura da mesma ideia feita por Charles Chaplin? Os seus modos tragicômicos aproximam-lhe de Carlitos, parte da festa com diversos trejeitos de seus companheiros que usará nas suas próximas apresentações". Você é este ator; e a sua personalidade sempre foi uma das coisas mais intrigantes da minha adolescência. Afinal, você era o protagonista dos livros de aventura e dos filmes de super herói que eu tanto admirava ali, materializado bem na minha frente. Me chamando pelo meu nome. E eu chamava pelo seu, em tom de brincadeira, numa referência aos shows infantis da televisão brasileira de décadas atrás.

Neste dia que destaquei no conto, nós nos encontramos pela primeira vez depois de os rumos da vida adulta terem nos jogado para caminhos completamente diferentes. Era uma noite fria, era um lugar desconhecido, e nós éramos parte do passado de uma pessoa em comum. Naquela noite, nós nos tornamos iguais. Contudo, bastou um sorriso seu direcionado para mim para que as borboletas da adolescência voltassem a flutuar pelo meu estômago. Naquela noite, nós nos tornamos iguais. Porém, caro anônimo, mesmo sentindo as mesmas sensações por você - veja bem, meu coração acelerou apenas por ver você chegar! - eu tinha me tornado outra. Era a versão madura, confiante e extrovertida de mim mesma que vivia naquela noite: e você notou isso. A quantidade de sorrisos e menções que você fez naquele dia superaram as que você fez ao longo de três anos inteiros.

Ah, caro anônimo, você deveria ter acreditado quando te contaram que eu estava afim de você nos primeiros anos da nossa amizade. Eu realmente estava... E eu poderia ter te ajudado a perceber o quão incrível você era e o quanto você merecia o meu amor. Porque tudo isso era verdade. Mas, não nos desanimemos: se a nossa história não deu um livro Young Adult, ela ficaria bem em uma de suas esquetes de humor.
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Eu encontrei esta tag no blog da Liz's e fiquei encantada: primeiro, porque eu adoro responder a tags; segundo, porque já faz um tempinho que não atualizo os meus gostos pessoais por aqui, então, senti que seria uma excelente oportunidade para fazê-lo. Espero que gostem! As regras são: responder às perguntas com imagens ou texto (nos 4 livros, pode ser mangá ou HQ; e nos 4 filmes, pode incluir séries ou reality shows) e repassar a tag para outras pessoas. Já deixo marcadas: Larissa, do As Moscas na Janela; Bia , do Antique Faerie; e Mel, do Twee. Vamos lá?


4 livros para me conhecer

1. Série Percy Jackson - Rick Riordan
2. Uma Constelação de Fenômenos Vitais - Anthony Marra
3. Livre para Recomeçar - Paola Aleksandra.                                                                                                                                           4. E não sobrou nenhum - Agatha Christie 
      


4 filmes para me conhecer                                                                                                                       
1. Questão de Tempo (filme)                                                                                                                        2. When Calls the Heart (série)                                                                                                                    3. Vincenzo (dorama)                                                                                                                                    4. A Nova Onda do Imperador (animação)    

                                                                                                                                                                      4 memes para me conhecer                                                                                                                   
1. Pipino de Novo                                                                                                                                         
2. Beach! Bitch?                                                                                                                                         
3. Mais uma noite chega e com ela a depressão                                                                                         
4. Niágaras Pica Pau                                                                                                                                


4 peças do guarda-roupa para me conhecer                                                                                            1. Vestidos                                                                                                                                                    2. Saias midi                                                                                                                                                3. Camisetas estampadas cultura Pop                                                                                                         
4. Meias-calças coloridas                                                                                                                                                                                                                                                                                                  + Eu vou acrescentar perguntas referentes a música, porque é um dos meus hobbies preferidos hoje em dia!               
                                                                             

 4 músicas para me conhecer                                                                                                                     1. Zitti e Buonni - Maneskin 
2. Fly to my Room - BTS 
3. Staring at the Sun - Mika
4. Bbibbi - IU                                                                                                                                                                                                    
Acho que a tag valeu já pela parte dos memes, algo que eu nunca compartilhei com vocês aqui, hihi. Diz pra mim: quais são os seus 4x4?

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Bonjour, meu nome é Bruna. Sou uma ratinha de biblioteca, adoro fotografar a natureza, andar por ruas desconhecidas e escrever tudo o que me vem a cabeça. Obrigada por visitar o meu jardim. Abra seus olhos e amplie sua imaginação. Talvez você precise bastante por aqui.

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A ilustração do cabeçalho deste blog pertence à ilustradora Penny Black e foi usada para fins puramente estéticos.
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