Das Vantagens de Ser Bobo, Clarice Lispector

by - outubro 16, 2018


Ontem, eu tive uma vontade enorme de assistir de novo a um de meus filmes favoritos dos últimos anos - Animais Fantásticos e Onde Habitam, continuação/spin-off do universo de Harry Potter. Essa vontade veio pela proximidade do lançamento de Animais Fantásticos e os Crimes de Grindewald, que, no Brasil, será exibido pela primeira vez no dia 15 de novembro.

Eu comecei a procurar pelas curiosidades que os fãs mais fervorosos do que eu encontraram no trailer oficial, acabei assistindo a um vídeo de 30 minutos no YouTube e pensei: "hmm, agora eu preciso rever Animais Fantásticos 1 para amarrar tudo o que aprendi agora"... E, no outro dia, coloquei o filme no meu DVD (alô, Netflix! Compra os direitos de Harry Potter, vai!).
Mas, por que estou falando tudo isso?

Porque com essa vontade de reassistir ao filme, eu redescobri o quanto me encaixo nas premissas de uma bruxa pertencente a Lufa-Lufa. Depois de anos de juventude renegando a minha própria essência lufana, e desejando pertencer a Sonserina, a graça e coragem de Newt Scamander fez com que meu coração desse um clique positivo para aceitar a escolha sábia do Chapéu Seletor.

E com o fato de lembrar de ser da Lufa-Lufa, muitas outras coisas começaram a fazer mais sentido para mim nessa semana. Eu também descobri um canal no YouTube, ligado ao universo da Turma da Mônica, da bruxinha Ramona. Ela traz vídeos inspiradores sobre a Natureza, a Magia vinda desse ambiente, DIY de coisas fofíssimas, Signos e muita Paz e Amor unidos.

E a Ramona também me reconectou com minha essência mais verdadeira! Um dos vídeos que ela fez é sobre um Concurso Literário do bairro do Limoeiro, em que ela declama alguns poemas lindos sobre Natureza, Empatia e Amor. Um desses poemas me tocou mais: "Das Vantagens de Ser Bobo", da Clarice Lispector. Nele, o Eu Lírico fala sobre o porquê devemos nos orgulhar de sermos bobos, elencando aspectos positivos das pessoas que são taxadas assim pelo mundo que as cerca. 

E aí é que tudo se encaixa melhor. Porque eu sou a boba que Clarice define nesse poema. Assim como, imagino, todos os meus amigos de Casa lufanos pelo mundo. Somos todos empáticos demais, bons demais, sensíveis demais, corajosos sem espetáculo, amigos demais, amorosos sem limites. E, em um mundo duro, somos os "bobos" sonhadores de Lispector. Abaixo, eu coloco o poema que me inspirou a fazer esse capítulo de número 90 do meu Jardim/blog/La Petite Souris...
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Das Vantagens de Ser Bobo

"O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: “Estou fazendo. Estou pensando.”
Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia.
O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não veem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os veem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.
Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranquilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.
Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: “Até tu, Brutus?”
Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!
Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.
O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.

Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo."

– Clarice Lispector, do livro “A descoberta do mundo”. [crônicas]. Rio de Janeiro: Rocco, 1984.

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2 comentários

  1. Que lindo!
    Fiquei feliz em saber que você é lufana e aceitou isso, acho a lufa-lufa uma casa maravilhosa. No meu teste no pottermore deu Corvinal, e eu amo a Corvinal por conta da Luna minha personagem preferida, e fiquei muito feliz com o resultado, porém tenho um coração bem lufano também, adoro o Newt, as cores da lufa-lufa, é uma casa muito sensível. Eu costumo dizer que tenho uma mente corvinal, adoro as coisas do céu, a criatividade e sou bastante excêntrica, mas tenho um coração lufa-lufa, mas enfim, Corvinal e Lufa-lufa são minhas casas favoritas, onde eu me sentiria muito a vontade e teria amigos de ambas sendo de uma ou de outra rs.

    Abraços!

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    1. Olá, miss Gaby! Sinceramente, todas as casas de Hogwarts me fascinam. A Grifinoria por sua lealdade, a Sonserina por sua sagacidade, a Corvinal por sua inteligência e a Lufa-Lufa por sua doçura... Aliás, para comemorar esse mês das bruxas, estou revendo Harry Potter e isso me deixa muito feliz! Beijos açucarados.

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