Um vento por entre as pérolas
Uma risada desconexa, fora de hora.
A sua risada era escandalosa. Os homens com quem trabalhava diziam que era vulgar, as mulheres que era brusca. Bruta. A fuga de uma alma assustada.
Os lábios se escancaravam para revelar dentes alvos e retilíneos. Tudo começava nesse ponto, a boca se abrindo lentamente a espera do tempo em que ninguém na sala o olhava mais. As trinta e duas pérolas fechando-lhe a garganta, bloqueando o ar cadenciado que suas cordas vocais em alguns segundos soltariam.
O tempo correto. Três, dois, um... Olhares espantados, protocolo corrompido. Todos o olhavam agora.
Ele fecha os olhos. Aproveita o momento. Abre.
O seu subconsciente decreta a morte da bailarina leviana. Uma visão pela sala capta as trocas de olhares entre seus companheiros... Parece que todos estão se acostumando com a risada peculiar que ecoa pelos sofás de couro marrom. É o momento de sufocar a bailarina. Ela tenta escapar de sua morte iminente dando pulinhos, enrolando sua língua, prendendo as cordas de sua laringe. Mas, não dá certo. O homem emite um olhar de culpa. Desculpa. Oculta. A bailarina perde as forças.
Sua risada era escandalosa. Surgia em momentos inoportunos. Rompia regras seculares. Terminava conversas unilaterais. Era motivo de constrangimento. Mas, sua risada era verdadeira. Em todos os momentos, verdadeira. Em todas as situações, verdadeira. Para todos os presentes, verdadeira.
Sua risada era pura. Era uma lufada de ar de um campo inexplorado, era a expressão máxima da arte de rir. Era sincera, simplória, era quase medíocre. Era uma risada infantil. O seu humor era infantil, ria por piadas bobas, ria por caretas engraçadas, ria por estar alegre em um dia qualquer. Só não ria por causa de acidentes, nem por momentos tragicômicos. Não.
Sua risada era alta, aguda, sopranino em uma ópera alemã. Machucava os tímpanos de quem estava ao seu lado, irritava os cães da casa em que estivesse. Ele não a percebia assim. Percebia-a como uma dança sincronizada pela deixa de seus companheiros, um ritmo de jazz. Sua alma contrastava com a expressão de seu sorrir, era um blues, era um tango argentino, era um turbilhão artístico, um autorretrato de Van Gogh.
O som de conversa volta a reinar no ambiente. O efeito de sua risada passou. Ele levanta e vai até o piano. Desafoga sua sensibilidade nos espaços brancos e negros que vão ao encontro de seus dedos esguios. Desvario.
Mozart.
A sua risada era escandalosa. Os homens com quem trabalhava diziam que era vulgar, as mulheres que era brusca. Bruta. A fuga de uma alma assustada.
Os lábios se escancaravam para revelar dentes alvos e retilíneos. Tudo começava nesse ponto, a boca se abrindo lentamente a espera do tempo em que ninguém na sala o olhava mais. As trinta e duas pérolas fechando-lhe a garganta, bloqueando o ar cadenciado que suas cordas vocais em alguns segundos soltariam.
O tempo correto. Três, dois, um... Olhares espantados, protocolo corrompido. Todos o olhavam agora.
Ele fecha os olhos. Aproveita o momento. Abre.
O seu subconsciente decreta a morte da bailarina leviana. Uma visão pela sala capta as trocas de olhares entre seus companheiros... Parece que todos estão se acostumando com a risada peculiar que ecoa pelos sofás de couro marrom. É o momento de sufocar a bailarina. Ela tenta escapar de sua morte iminente dando pulinhos, enrolando sua língua, prendendo as cordas de sua laringe. Mas, não dá certo. O homem emite um olhar de culpa. Desculpa. Oculta. A bailarina perde as forças.
Sua risada era escandalosa. Surgia em momentos inoportunos. Rompia regras seculares. Terminava conversas unilaterais. Era motivo de constrangimento. Mas, sua risada era verdadeira. Em todos os momentos, verdadeira. Em todas as situações, verdadeira. Para todos os presentes, verdadeira.
Sua risada era pura. Era uma lufada de ar de um campo inexplorado, era a expressão máxima da arte de rir. Era sincera, simplória, era quase medíocre. Era uma risada infantil. O seu humor era infantil, ria por piadas bobas, ria por caretas engraçadas, ria por estar alegre em um dia qualquer. Só não ria por causa de acidentes, nem por momentos tragicômicos. Não.
Sua risada era alta, aguda, sopranino em uma ópera alemã. Machucava os tímpanos de quem estava ao seu lado, irritava os cães da casa em que estivesse. Ele não a percebia assim. Percebia-a como uma dança sincronizada pela deixa de seus companheiros, um ritmo de jazz. Sua alma contrastava com a expressão de seu sorrir, era um blues, era um tango argentino, era um turbilhão artístico, um autorretrato de Van Gogh.
O som de conversa volta a reinar no ambiente. O efeito de sua risada passou. Ele levanta e vai até o piano. Desafoga sua sensibilidade nos espaços brancos e negros que vão ao encontro de seus dedos esguios. Desvario.
Mozart.
4 comentários
Esse texto é completamente diferente de tudo que eu já li e acho que foi exatamente por isso que me encantei tanto,consegui ver toda a cena, essa personagem teria tudo para ser eu mesma,adorei :D
ResponderExcluirBeijos ^.^
Obrigada, miss Jenny! Sim, eu me esforcei bastante na criação desse texto, ele me orgulha muito :)
ExcluirBeijos açucarados.
Q máximo, parabéns flor😊
ResponderExcluirOlá, miss mãe!
ExcluirObrigada pelo comentário fofo, te amo muito.
Beijos açucarados.