Brilho onírico
A menina olhou para o céu - ele era azul. O que mais ela poderia esperar de um céu de abril?
Então, ela olhou para o chão - ele era marrom. O que mais ela poderia esperar de um chão de terra batido, um fragmento inconsistente do passado no meio da cidade grande?
Mas, seus olhos viram um brilho. Ela decidiu segui-lo... Aonde um brilho dourado, cintilando como dúzias de vaga-lumes pisca-pisca, poderia levá-la? Aquilo não era comum... Seu senso de curiosidade apurado em doze anos ficou em alerta.
O brilho subiu e desceu quando se viu observado, porém, resolveu que seguiria seu plano original. O plano? Subir o muro, atravessá-lo e chegar até a floresta que despontava de detrás da casa da menina. O muro tinha um buraquinho, viu por vim o brilho corajoso. Pra que pular um muro então?
Mas, a menina precisou pular o muro para conseguir seguir o brilho... Que esforço exagerado por causa de uma coisinha que não tinha nem cinco centímetros de diâmetro! Só que a curiosidade era maior do que sua própria fadiga e ela pulou o muro, correndo pela trilha que levava dos fundos da sua casa até a floresta. Uma toca de coelho ultrapassada aqui, um montinho de folhas secas espalhado ali. Galhos se quebravam aos seus pés.
O brilho chegou à floresta ao mesmo tempo em que a menina o alcançou. E, então, o brilho ficou mais forte, mais poderoso e tomou conta do campo de visão da menina: ele cresceu, cresceu e já não era brilho mais. Era uma outra menina de cabelos ruivos encaracolados e nariz arrebitado. Só que ela tinha algo a mais do que sua perseguidora: duas asas brilhantes e lindas, que a retirava do mundo real e a fazia fada.
"Olá, obrigada por me ajudar a encontrar minha casa", disse a fada à menina de boca aberta. "De nada", foi tudo o que ela conseguiu responder. A fada sorriu e tocou a testa da menina.
Então, ela acordou em sua cama. Eram sete horas, segunda-feira, 23 graus Celsius na rua. Levantou um pouco tonta e olhou pela janela: cadê a floresta que havia ali?
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