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La Petite Souris

... o que é melhor para transitar entre dois universos distintos do que ouvir uma boa música?

E se a música diz tudo o que você gostaria de dizer, tanto melhor. Eu me despeço do desafio que ocupou minha mente e coração durante boa parte desse isolamento social, o One Page Story Challenge, e digo oi para todas as surpresas, alegrias e superações novas que o blog me trará.

Acredito que essa música de The Gothard Sisters será uma excelente forma de dizer que eu sou grata por tudo e que saúdo vocês nessa nova fase do blog. Bem-vindos, mes amis.


Au revoir.
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Serenity Illustration Series on Behance  #sunset #vectorillustration #girlillustration #anzacday #motiondesign #styleframe

(para garantir a seus seguidores que eles estão no caminho certo)

Se os seus olhos brilham com um pôr-do-sol... Você está no caminho certo.

Se seus ouvidos se alegram com o gorjeio dos pássaros... Você está no caminho certo.

Se o seu sorriso se abre com a resposta ingênua de uma criança... Você está no caminho certo.

Você está no caminho certo, você está no caminho certo.

Se a floresta retumba em seu coração... Você está no caminho certo.

Se a sua luta é por um mundo igual... Você está no caminho certo.

Se o seu amor é múltiplo e gentil... Você está no caminho certo.

Você está no caminho certo, você está no caminho certo.

Se os livros pesam em sua estante... Você está no caminho certo.

Se o seu coração é leve como mil vaga-lumes... Você está no caminho certo.

Se o passado é seu amigo, o presente é seu companheiro e o futuro é sem complicação... Você está no caminho certo.

Você está no caminho certo, você está no caminho certo.

Obrigada por estar junto comigo nessa jornada. Você está no caminho certo.
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Charming Ocean Illustrations Show Hundreds of Creatures Under the Sea

(para ajudar um estranho a tomar uma decisão)

João contava os passos que dava na calçada de paralelepípedos. Ele já havia dado 145 desde a porta de sua casa, cor carmim e porta amarela na esquina da... bom, João é reservado e não queremos invadir a sua privacidade.

Seus pensamentos estavam longe dali. João queria identificar o tipo de bolor que havia consumido a parede do seu quarto, porque, assim, ele conseguiria combatê-lo de forma corretíssima. João era biólogo aliás, mas não micologista... Ele precisava de uma segunda opinião.

146, 147, 148.

João esbarrou em alguém. "Opa, desculpa". Mas, ele não recebeu uma resposta qualquer e sim, uma explosão de choro. "Eu te machuquei tanto assim? Ei, me desculpa". João teve que deixar de olhar para baixo e contar seus passos para olhar o seu interceptor. Era um homem com seus 56 anos, barba rala e um tufo majestoso de cabelo que coroava sua careca como uma coroa de louros romana. O seu nariz batatudo estava agressivamente vermelho e os olhos acompanhavam-no com elegante agonia. João não sabia mais o que fazer para se desculpar por ter esbarrado nele. Ou ter sido esbarrado.

O estranho tinha um choro cadenciado que parecia estar arrefecendo. Em seu ínfimo e majestoso último choro, uma fungadela tímida, o estranho olhou para João como que se desculpando.

"Você já viu o fim do oceano?", o estranho perguntou para João de uma forma mais estranha ainda. João estagnou com um olhar perplexo.

"Ahn. Não... Você já?". João sabia que era uma pergunta tola. Mas, o que fazer naquela situação?

"Eu já. Voltei de lá agora mesmo, do fim do oceano. Rapaz, lá é a coisa mais linda do mundo todo. Por isso estava chorando e não vi você cruzar o meu caminho... Desculpa, rapaz. Desculpa".

"Tá tudo bem". Mas, o estranho não saía da frente de João. Ele esperou: será que ele faria alguma coisa estranha? Era melhor correr dali?

"Tsc, você pode me ajudar a tomar uma decisão? É bem rapidinho. Eu saí de lá do fim do oceano e os habitantes do Mar Profundo me deram esses dois pedações de alga, completamente diferentes um do outro e que me deixam encafifado. Eles precisam que eu escolha só um... Qual você escolheria?"

João se retesou. Ele era péssimo em escolhas. Por isso, ele precisava de uma segunda opinião com o mofo destruidor de lares que preenchia as paredes de seu quarto. Mas, aquele homem não sairia dali se ele não o ajudasse, né?

As duas algas eram muito parecidas uma com a outra na verdade. A única diferença era que uma brilhava em azul e a outra, em verde fluorescente. Em seus anos de Biologia, João aprendera que coisas fluorescentes eram ruins na Natureza. Eram perigosas...

"A verde fluorescente, senhor".

"Ah, ah, muito obrigado! Rapaz, obrigado pela ajuda. Bom, deixe-me deixá-lo passar, ok? Obrigado, obrigado e desculpa".

João piscou duas vezes e seguiu o caminho até seus amigos biologistas. O mofo foi resolvido, porém sua consciência não. O que acontecera com ele? Porque quando saía, viu que o velho havia comido a alga com gosto...

Mas, o que era aquilo em seu aquário?

Um peixe novo? Cinza e de olhar brejeiro... Um peixe de olhar brejeiro?

"Rapaz, você me trouxe para o fim do oceano com aquela alga. Aqui é maravilhoso demais, obrigado". 

João desmaiou.
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(sobre as coisas funcionando no mundo)

quando a pandemia passar, eu vou:

subir em árvores.

nadar embaixo do oceano.

catar conchinhas na orla da praia.

sentar em uma praça para ver o movimento passar.

plantar beterrabas. uma árvore talvez.

ir a festas. ser jovem também.

abraçar meus amigos.

sorrir para estranhos na rua (eles verão meu sorriso, aliás).

mudar a rota repentinamente e não seguir o google mapas mais.

quando a pandemia passar, o mundo:

voltará ao normal. ou voltará ao novo normal?

e como as coisas funcionarão no mundo pós tudo isso?

um novo poema precisará ser construído.
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(sobre sua frase motivacional favorito)


Pollyanna é o livro que mudou a minha vida. É o livro que me transformou como pessoa e que me fez encontrar a mim mesma em meio a um furacão.

Pollyanna, menina bonita do laço de fita. Menina que me ensinou o Jogo do Contente. O que ela sente? O que eu sinto?

Gratidão. Obrigada, Pollyanna por me permitir ser a Bruna verdadeira.

Au revoir.
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print & pattern: KIDS DESIGN - marks & spencer

(para fazer alguém rico)

"O que há no final do arco-íris?", eu te pergunto. Anita se fez a mesma pergunta em uma tarde pós-chuva no verão de Janeiro. Ela estava de férias no sítio da avó e aguardava na varanda, junto com seus primos menores e alguns irmãos mais velhos, para poder ir brincar nas largas poças que se formaram no pomar.

Ninguém ali conseguiu responder a sua pergunta. A vovó estava ocupada com a confecção de um delicioso bolo de laranja para o café da tarde. Sua tia Nena havia saído para a cidade em busca de canela para os bolinhos de chuva que estavam programados para amanhã.

Seus olhos piscavam em direção ao céu meio cinza, meio azulado, perscrutando os raios multicoloridos que arqueavam no céu sem fim. Se ela pudesse escorregar naquele imenso escorregador de sete cores, aonde ela chegaria? Na China? Em um imenso poço escuro que a levaria para um mundo de Copas como em Alice no País das Maravilhas? Na boca de um dragão maravilhoso e dourado?

Anita queria saber. Anita precisava saber. Quando sua vovó deu o start para que eles pudessem ir brincar, Anita correu em direção aquele imenso arco-íris.

Corre que corre, pula a pedra aqui, contorna uma cerca ali. Puf, puf, puf. Anita via mais e mais daquele arco-íris: ela se apequenava. Ele se agigantava. E, por estar olhando para cima, Anita não percebeu que chegara ao seu destino. Bateu contra o arco-íris. Ai, ai, ai.

E, então, ela tinha que correr agora para chegar ao seu fim, o margeando. Corre que corre, as mãos de Anita passavam pelo arco macio que a acompanhava... E, então, o que ela via logo a seguir? Um pequeno homenzinho verde e azul de cara feia? Um... um... um duende?

"Ahá, mais uma. Ei, menina, o que você quer aqui?", o duende perguntou com camaradagem.

"Ahn, você é o que há no final do arco-íris?". Anita, evidentemente, estava desapontada.

"Qual é, eu sou legal".

"É. Então tá, preciso voltar, porque hoje a vovó fez bolo de laranja. Adeus, duende".

O duende se exasperou.

"Ei, ei. Calma lá. Isso não é tudo, mana. Ahn, ahn. Um pote! Um pote de ouro, é isso o que eu tenho aqui comigo como o prêmio do fim do arco-íris. Que tal?"

Anita encheu os olhos de alegria. Ouro?

O duende sorriu com malícia. Fisgara mais um para sua coleção de porcelana de amigos para sempre.

Mas, Anita não era boba. Ela percebeu que o duende esfregara as mãos enquanto falava e sentiu um cheiro de tramoia no ar. Ela decidiu responder:

"Não, valeu. Bolo de laranja é mais gostoso. Ô duende, se quiser, eu trago um pedaço para você amanhã". Pode ser? 

E Anita saiu em disparada. Margeou o arco-íris, correu, puf puf puf. Voltou para o sítio.

No outro dia, choveu de novo e no céu se formou um arco-íris. Anita cumpriu sua promessa e conversou mais um pouquinho com o duende. Ele não era tão chato assim... Decidiu que voltaria no outro dia para brincar de esconde-esconde com ele (sua brincadeira favorita). Isso durou uma semana, o período mais chuvoso do mês inteiro.

No domingo, Anita não pôde ir brincar, porque nenhum arco-íris se formara no céu. Ela se entristeceu e decidiu ir dormir mais. No seu travesseiro, um saco pesado tilintava. E um bilhete o acompanhava: obrigado pelas férias divertidas, Anita. Você é minha primeira amiga de verdade e não de porcelana. Esses, eu liberei da minha vida. O ouro é uma pequena lembrança de que voltarei nas próximas férias. Adeus. 
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        Magic Piano - Vertical print, pink, girl, music, flowers, art, print, illustration, gift

(motivar um amigo a começar algo novo)

Judite não sabia nada sobre piano. Ela desconhecia Bach, Beethoven e Mozart. Ela não sabia qual era a diferença entre um piano e um teclado ou um órgão. Mas, Judite precisava aprender a tocar piano em menos de três dias. Era uma questão de vida ou morte. De luz e sombras. Ela precisava manter seu emprego.

Judite arranjara um emprego de meio período na antiga loja de brinquedos do bairro. Lá estava um caos, porque era bem a semana do Natal e pais desesperados saíam às pressas de uma seção para a outra, de uma esquina para a outra, como abelhas em colmeias carregadas de mel, na busca pelo presente ideal para seus filhos. O dono da loja, seu Juarez, nunca imaginaria que aquilo aconteceria um dia com sua modesta loja.

A neta - dezesseis anos, rosto acnento e com um sorriso metalizado lindo que o embelezava - tivera uma ideia para alavancar as vendas da loja do avô em Novembro, depois de uma conversa franca com suas amigas que tinham irmãos mais novos: criar uma conta no Instagram para a antiga lojinha, bem ao estilo vintage, que resgatasse o amor de todos por brinquedos de madeira e pano bordado. A dedicação dos dois dera resultados estrondosos em pouquíssimo tempo: o riso solto de seu Juarez e os contatos de sua neta fizeram a loja viralizar na web. O resultado: a loja já não podia mais respirar em meio a tantos ocupantes desesperados em Dezembro.

Claro que seu Juarez não daria conta de tocar a loja sozinho. Por isso, ele colocou uma plaquinha de "Precisa-se" na janela oeste da loja. E, também por isso, que a vaga foi logo ocupada pela sortuda Judite que passava cabisbaixa pela avenida naquele exato instante em que seu Juarez pregava a plaquinha, e com três palavras (mais exatamente, "faço qualquer coisa") apenas, conseguiu o cargo de vendedora, subgerente e faxineira paft-puft.

Uma semana se passou na maior alegria. Contudo, Judite não estava esperando por aquilo. O que mais ela poderia responder quando seu Juarez, em uma tarde de sexta-feira, perguntou a ela: "mas, Judite, você toca piano? Eu tava é pensando em gravar umas musiquinhas originais pra loja, sabe, aquelas clássicas de Natal e eu queria saber se você pode me ajudar com isso. Melhor música original, você não acha também?". O sorriso amarelo a denunciou? Nunca! Porque em dois palitos, Judite respondeu bravamente: "mas, é claro que eu toco. Pode deixar comigo, Jura!".

E. COMO. ELA. APRENDERIA. A. TOCAR. O. BENDITO. PIANO. EM. TRÊS. DIAS?

YouTube? Será que teria algum professor de piano que toparia em ensinar o básico para ela por menos de R$ 200? Era tudo o que sobrara do salário dela naquele mês de Novembro... E se ela fosse em uma loja de música e ficasse por lá vendo os outros tocarem até absorver alguma coisa?

O que havia feito a pobre Judite ao responder "sim" para o seu chefe?

E, então, Judite olhou para o mural de cortiça pregado no ponto de ônibus. Ele dizia: "ensino você a conquistar tudo o que deseja em apenas dois dias". Dois dias? E ainda sobraria um para escolher o repertório! Judite pegou um dos papeizinhos com o endereço do lugar e seguiu em sua busca por conhecimento. Chegou à rua. O lugar era uma portinha simples com duas janelas pregadas a uma porta de alumínio dupla face. Nada indicava que o endereço era ali, apenas o número na porta... Judite tocou a campainha.

Uma senhorinha desceu para abri-la. Um coque apertado repuxava seus fios brancos. Ela usava um xale roxo por cima do vestido de poás laranjas. Botas de couro macio cobriam seus pés. A senhora olhou para Judite com um misto de anseio e desdém. "O que deseja, jovem?", ela questionou.

Judite explicou tudo. Sobre a lojinha, seu emprego e o piano. Sobre Mozart (um compositor de dentes brancos como um colar de pérolas) e sobre as músicas de Natal do seu Juarez. Em nenhum momento, foi convidada a entrar.

A senhora ouviu a tudo com atenção. Depois da longa explanação, respondeu: "menina, eu só tenho três ordens para lhe dar que resolverão a tudo com maestria. Escute bem com atenção e faça o que eu mandar, senão lhe lanço uma praga que fará crescer erva daninha por seu jardim inteiro. Primeiro, volte ao seu trabalho e peça desculpa para o seu chefe. Diga que falou aquilo de cabeça cheia e que nunca mais fará isso. Ele lhe desculpará, senão não me chamo Odette! Então, volte para casa. Lá você encontrará livros de aulas de piano. Treine com fervor durante três meses. Lá pela Páscoa, você poderá cumprir com sua promessa ao seu Juarez. É dito e feito, flor. O segredo de começar algo novo é ter coragem e determinação, não procurar por coisas mágicas".

Judite se ofendeu com o papo da velha senhora, mas ficou com medo das ervas daninhas também. Fez tudo o que ela recomendou e manteve o emprego, transformando-o de temporário para permanente. Também aprendeu a tocar piano e fez um baile de Páscoa na loja de brinquedos antigos do Jura.

Judite decidiu que era sua obrigação agradecer à velha senhora. Voltou ao endereço. Quando bateu à porta, um jovem de óculos tartaruga atendeu: "O que deseja, jovem?", ele perguntou. Judite disse que queria agradecer a sua avó pelo aconselhamento. "Mas, que vó, ô? Aqui é um escritório de contabilidade há mais de vinte anos. Desculpa, mas você veio ao lugar errado, moça".

Judite não entendeu nada. E ainda levou uma maçanetada na cara!
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              Bambi, Autor: Felix Salten, Ilustrátor: Mirko Hanák

(que permita que alguém escape)

O cervo caramelo olhou para baixo. Suas patas manchadas de branco adquiriram mais uma outra tonalidade, avermelhada. Tentou se mover para banhar sua pata no lago brilhante que avistava à frente. Ele sabia, desde filhote, que as águas dos lagos possuem o poder de curar os mais doentes, os inválidos e aqueles que tiveram seus corações partidos. Sua mãe havia o alertado de que procurasse regiões altas com lagos no centro, porque, assim, ele estaria seguro para sempre. Então, por que sentia que sua pata direita doía com o leve sussurro do Vento Leste?

O cervo tentava se desvencilhar daquilo que o prendia ao lado da Árvore Torta. Ele percebeu que o que se parecia com um cipó, comum na Floresta da Acade, brilhava como as pedras afiadas que ficavam abaixo da cachoeira que findava o seu Lago-Lar. Percebeu também que quanto mais ele entortava a pata, mais aquela coisa estranha o apertava em uma agonia de dor. Fez o que qualquer animal faria naquele momento: cheirou o objeto.

Ah, que cheiro horrível era aquele?

Era cheiro de humano com toda a certeza. Ele poderia, como qualquer animal da Floresta, sentir aquele cheiro a quilômetros de distância, mas as circunstâncias do momento deixaram o seu olfato extremamente prejudicado. Era cheiro de asfalto, nicotina e tecido sintético. Um cheiro que não possuía nenhum equivalente na Natureza: apenas os animais mais preguiçosos o trazia para as clareiras, porque eles chafurdavam os lixos dos humanos à procura da comida que jogavam fora, à luz da Lua Cheia. Preguiçosos, párias. Mas, o cervo sabia que essa realidade seria uma necessidade para todos um dia.

Enquanto humanos invadissem as florestas dessa forma, enquanto eles colocasses dispositivos estranhos para os machucarem e os capturarem - como queria não ter passado por aquele caminho - eles teriam que pensar em soluções para a sobrevivência. Para o cervo, aliás, a solução teria que vir rapidamente. Antes do pôr-do-sol e antes que os passos das botas dos humanos (ele começava a sentir seu estremecimento no chão de terra) se aproximasse mais e mais.

O cervo olhou para cima. O luminoso céu azul de nuvens brancas estava coberto pelas copas das árvores como uma renda verde. Nada poderia ser visto ou ouvido naquele ponto da Floresta... Os animais sabiam o que acontecia ali: o humano passara por ali, assassinara por ali. O humano destruíra por ali. O cervo não morrera ainda. E não tinha a quem recorrer também.

Então, o cervo suplicou aos céus. Uma lágrima prateada rolou por seu focinho dourado. Sua pata direita jazia inerte perto de pequenas margaridas amarelas que brotavam do solo. A força das correntes era demais para seu corpo franzino, pois sempre fora franzino, o mais pequenino da família de cervos do norte da colina.

O cervo fechou os olhos.

E, então, um clarão surgiu repentinamente. Eram mil estrelas que pipocavam aqui e ali, cegando a visão do cervo que já aceitava a qualquer coisa que pudesse lhe ajudar. Da nuvem de poeira cósmica que surgia a sua frente, saiu uma bela moça de negras tranças grossas e pele avermelhada. Ela tinha um sorriso acolhedor como o da sua mamãe. Ela o ajudaria, certo?

A moça o ajudou. Primeiro, ela franziu o nariz para a corrente que o agrilhoava. Decerto ela também não gostava do cheiro que de lá emanava. Ela tinha um machadinho em mãos e muitos panos limpos em sua cesta de vime. Depois de algumas horas - ou dias para o pobre cervo - ela conseguiu finalmente livrá-lo de seu algoz. O seu instinto dizia para ele fugir, mas no seu coração, o cervo sabia que a humana que via a sua frente tinha um cheiro diferente. Ele esperou.

Ela, então, cobriu sua ferida com ervas frescas e enrolou sua pata com os panos da cesta. Ela afagava seus pêlos enquanto fazia todo esse processo mágico. Ao final, ela mostrou seus dentes brancos para ele: o cervo lembrou-se de que os humanos chamavam aquilo de "sorriso".

"Estás livre, criatura da Floresta. Seja corajoso e lembre-se de sua amiga em seu gentil coração".

O cervo sabia que poderia ir embora agora. Ele estava livre.

Olhou mais uma vez para trás, porém, antes. A humana estava se dissolvendo em folhas secas em um redemoinho de luz.

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Esse texto foi baseado em uma música que conheci recentemente. Ela chama "The Joke" e foi composta por Brandi Carlile.


Espero que vocês gostem.
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Olá, pequenino. O que você olha com tanto medo?
A vida é assim. São vaga-lumes que piscam aqui e lá, depois de um crepúsculo assustador. Eles iluminam um tantinho assim ao redor deles mesmos, sua luz é fugaz. Mas, mesmo assim, eles não desistem e sempre estarão lá por você. Lembre-se sempre disso, está bem?

Olá, pequenina. O que você olha com tanto deslumbramento?
O mundo deles é assim mesmo. Só deles.
Seus joelhos ralados nunca serão o suficiente para eles. Sua bagagem nunca estará completa para eles. Se você pegar minhocas com as mãos, falar sobre rebimbocas da parafuseta, pintar um bigode com tinta guache no rosto... Nada disso será suficiente para eles.
Você nunca será um deles. E está tudo bem. O importante é você ser suficiente para si mesma, está bem?

Pequenino, está tudo bem chorar. Os seus sentimentos são lindos. Eles flutuam como penas de gansos selvagens na imensidão do lago, uma visão belíssima para todos os animais da floresta. Um quadro de museu.
E se você cair, levante com orgulho e humildade. Você não é invencível. Mas, também é eterno em suas atitudes de bem e em seus sorrisos gentis. A dualidade de suas ações moldarão quem você será no futuro: escolha bem.

Pequenina, está tudo bem falar. Suas palavras importam. Elas são como tijolos de mármore que fabricam um monumento eterno e estável a que todos admirarão quando passar por elas. Uma picareta nunca as derrubará se elas forem verdadeiras. Tenha coragem.
E se você obtiver sucesso, sorria com orgulho e humildade. Você também pode ser um dos herois de máscara e capa que povoam os quadrinhos do seu irmão. Para isso, lembre-se de dizer o que pensa e mostrar o seu valor (não precisa prová-lo se não quiser. O seu irmão não precisa, você também não).

Pequenina e pequenino, olhem um para o outro.
O que os fazem semelhantes é maior do que o que os distancia?
Se ele pode desbravar os cenários noturnos, uma figura antropomorfizada de um gato (Cats?), ela pode o quê?
Se ela pode falar aos quatro ventos como se sente, uma explosão colorida em arco-íris, ele pode o quê?
Eles podem tudo? E juntos, podem conquistar o mundo?
Serão eles a união de tudo? A salvação do mundo?
Pequenina e pequenino, olhem um para o outro com atenção, empatia e respeito. Pequenino, permita que ela faça as coisas que você faz sem desigualdade. Pequenina, permita que ele tenha os seus sentimentos ouvidos com carinho e sem ressentimentos prévios.

* Eu gostaria de ter tido tudo isso para a Bruna de dez anos. Espero que esse texto seja útil para os pequeninos e pequeninas que me leem um dia.

Au revoir.
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Ser da geração Y. Nascidos nos anos 90, este texto é uma fonte de reflexão para vocês. Prazer, colegas de maternidade.

Nós vivemos em um limbo. Sim, é verdade, nós vivemos! Não somos nem uma coisa, nem outra. Somos a primeira lufada de tecnologia, mas fomos pousados na Terra quando tudo ainda era incipiente nesse sentido. Vivemos em um mundo feito de Internet à cabo, discada com aquele chiado insuportável e conectável apenas aos finais de semana. Tivemos disquetes para transferir os trabalhos da escola e um MP3 precioso colado com durex em nossos braços enquanto varríamos a casa.

Somos a última geração ativa da Capricho. Preocupados com a edição 457 com a capa do Restart, mas que não trazia o Colírio em pôster que tanto adorávamos. Uma pena não poder colá-lo na terceira porta dos nossos guarda-roupas (as outras duas portas já estavam preenchidas pelo Robert Pattison e pelo Luan Santana na fase Meteoro da Paixão). Somos a fase de transição da revista para a Internet também. Somos a agonia de não poder mais comprar a Mundo Estranho. RIP.

Quem nasceu sob o signo da geração Y é condenado a ser tiozão e jovenzinho dos memes do Twitter tudo ao mesmo tempo. Somos as duas partes de universos insolúveis, mas que coexistem em nós como um experimento barato de químicos malucos. Nós críamos o YouTube com sangue e suor. Nós demos likes para o bar-mitzvah de Nissim Ourfali. E nós somos os construtores do cancelamento, a arrogância em forma de 101-cancele-alguém-por-uma-fala-dita-sem-pensar.jpg

Nós tivemos o famoso tijolão da Nokia e disputávamos batalhas do Jogo da Cobrinha, hiper pixalizado e hiper adorado. Mas, nós também deixamos de digitar as perguntas que assolam nossas cabeças confusas para perguntar a Alexia qual é a máxima temperatura do dia. Nós somos dúbios na parte da tecnologia, sim. E também somos rasos de afeto.

Aqui eu dou uma pausa para um momento de reflexão que construiu uma nova perspectiva para meus problemas internos. Os filhos de Eliana (não literalmente, mas em eufemismo) têm problemas emocionais latentes. Somos mais inteligentes que nossos pais. Somos mais engajados do que os nossos pais. E somos mais carentes do que os nossos pais.

Fingimos que somos adultos porque vamos morar sozinhos em um apartamento descolado na esquina da Augusta com a Paulista. Fingimos que somos adultos porque bebemos vinho à noitinha ouvindo Belchior, afinal o Indie já está over. O novo álbum dos Arctic Monkeys? Melhor que ele só a nova fase do Harry Styles. Fingimos que somos adultos porque pagamos nossos boletos e reclamamos disso em 140 caracteres no Twitter. Mas, será que somos adultos em nossas emoções?

A resposta que alguém criada ouvindo Vou Passar Cerol na Mão enquanto lia Turma da Mônica é não. Somos todos frágeis emocionalmente como pássaros de asa quebrada. Nós sorrimos no feed do Instagram e choramos no Twitter. Nós fingimos ser adultos e damos outros nomes para as histórias em quadrinho que confortam os nossos corações. Nós clamamos a nostalgia porque ela nos dá saudade de quando éramos pequeninos e alguém nos abraçava e dizia que tudo estava bem. Nós dizemos amém para o Rouge porque eram elas que nos fazia sonhar com um mundo mais bonito.

E em tempos difíceis tudo isso se exacerba. Nós, a geração da Carminha e da Flora, somos dúbios também em termos de vida. Somos inteligentes, mas não somos espertos. Somos felizes nas telas e ansiosos na Terra. Somos dois em busca de outros dois para se completar... isso dá cinco?

Dá seis? Dá 2020? Ou dá 1990?
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Esse é um capítulo que surge em uma excelente hora aqui no blog. Nas redes sociais do la petite souris, principalmente no Instagram, eu trouxe alguns posts mais políticos e que se alinham a minha percepção de mundo como cidadã. Mas, também, que falam diretamente com assuntos muito trabalhados em meu cantinho como empatia, união, gentileza e bondade.

Recentemente, um cidadão negro estadunidense foi morto por policiais brancos, asfixiado. Mesmo após súplicas desesperadas dele dizendo "não posso respirar", os policiais não atenderam ao pedido e continuaram a violentá-lo até a morte, pressionando seu pescoço contra o chão. Este ato bárbaro e desumano está repercutindo em ondas de protestos pelo mundo, não só pessoalmente em passeatas, como também no universo digital. Foi nesse canal que eu decidi me posicionar como pessoa física e posicionar o blog também contra atos racistas e fascistas que vem assolando o mundo.

Nesse processo, o blog perdeu seguidores no Instagram. Contudo, isso não importa de maneira nenhuma para mim e só quis deixar registrado aqui como uma forma de contar a história do blog em um futuro próximo, uma forma de catalogação dos acontecimentos do meu jardim secreto. As pessoas que deixaram de segui-lo por lá não estão alinhadas com minhas convicções e sou grata por não tê-las mais comigo.

Por isso, quando vi que o próximo desafio da tag seria para "mudar o pensamento de alguém", fiquei muito contente. Ele é tudo o que eu precisava nesse momento para fincar as minhas opiniões no blog e para ajudar na conscientização de mais pessoas que o visitam. Vem comigo nessa jornada?

Não basta não ser racista, é preciso ser antirracista.
A luta do meu irmão é a minha luta também.
É a luta por um mundo justo em sua plena justiça.
É a busca pela verdadeira empatia, que vê o outro como igual em sua dissemelhança.
É a reformulação de uma visão carregada pelo mal da cultura em que fomos inseridos ao nascer.
É a consciência dos privilégios que, naturalmente, vamos ter.
Não basta não ser machista, é preciso ser antimachista.
A luta da minha irmã é a minha luta também.
É a luta por um mundo noturno que pode ser habitado por todos sem medo.
É a busca por igualdade de salários e de relacionamentos na esfera trabalhista.
É a reformulação dos olhares enviesados e dos comentários em baixo tom sobre o comprimento das roupas.
É a consciência de que a Biologia também foi infectada pelo vírus secular do patriarcado.
Não basta não ser homofóbico, é preciso ser antihomofóbico.
A luta dos meus irmxs é a minha luta também.
É a luta por um mundo plural em sua plena pluralidade.
É a busca por gêneros e sexualidades livres, sem julgamento.
É a reformulação de uma visão que não vê o amor verdadeiro.
É a consciência do nosso lugar.
Não basta não ser preconceituoso, é preciso ser antipreconceito.
É preciso dar voz e ouvir.
É preciso fortalecer e se sentir fortalecido.
É preciso sorrir por mais tempo do que se chorou.

Esse é um pequeno poema que fiz como um fluxo de consciência. Espero que tenham gostado.
Fiquem fortes e sejam corajosos. Au revoir.
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Sobre Mim

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Bonjour, meu nome é Bruna. Sou uma ratinha de biblioteca, adoro fotografar a natureza, andar por ruas desconhecidas e escrever tudo o que me vem a cabeça. Obrigada por visitar o meu jardim. Abra seus olhos e amplie sua imaginação. Talvez você precise bastante por aqui.

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Disclaimer

A ilustração do cabeçalho deste blog pertence à ilustradora Penny Black e foi usada para fins puramente estéticos.
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