One page story challenge: that makes someone richer

by - junho 16, 2020

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(para fazer alguém rico)

"O que há no final do arco-íris?", eu te pergunto. Anita se fez a mesma pergunta em uma tarde pós-chuva no verão de Janeiro. Ela estava de férias no sítio da avó e aguardava na varanda, junto com seus primos menores e alguns irmãos mais velhos, para poder ir brincar nas largas poças que se formaram no pomar.

Ninguém ali conseguiu responder a sua pergunta. A vovó estava ocupada com a confecção de um delicioso bolo de laranja para o café da tarde. Sua tia Nena havia saído para a cidade em busca de canela para os bolinhos de chuva que estavam programados para amanhã.

Seus olhos piscavam em direção ao céu meio cinza, meio azulado, perscrutando os raios multicoloridos que arqueavam no céu sem fim. Se ela pudesse escorregar naquele imenso escorregador de sete cores, aonde ela chegaria? Na China? Em um imenso poço escuro que a levaria para um mundo de Copas como em Alice no País das Maravilhas? Na boca de um dragão maravilhoso e dourado?

Anita queria saber. Anita precisava saber. Quando sua vovó deu o start para que eles pudessem ir brincar, Anita correu em direção aquele imenso arco-íris.

Corre que corre, pula a pedra aqui, contorna uma cerca ali. Puf, puf, puf. Anita via mais e mais daquele arco-íris: ela se apequenava. Ele se agigantava. E, por estar olhando para cima, Anita não percebeu que chegara ao seu destino. Bateu contra o arco-íris. Ai, ai, ai.

E, então, ela tinha que correr agora para chegar ao seu fim, o margeando. Corre que corre, as mãos de Anita passavam pelo arco macio que a acompanhava... E, então, o que ela via logo a seguir? Um pequeno homenzinho verde e azul de cara feia? Um... um... um duende?

"Ahá, mais uma. Ei, menina, o que você quer aqui?", o duende perguntou com camaradagem.

"Ahn, você é o que há no final do arco-íris?". Anita, evidentemente, estava desapontada.

"Qual é, eu sou legal".

"É. Então tá, preciso voltar, porque hoje a vovó fez bolo de laranja. Adeus, duende".

O duende se exasperou.

"Ei, ei. Calma lá. Isso não é tudo, mana. Ahn, ahn. Um pote! Um pote de ouro, é isso o que eu tenho aqui comigo como o prêmio do fim do arco-íris. Que tal?"

Anita encheu os olhos de alegria. Ouro?

O duende sorriu com malícia. Fisgara mais um para sua coleção de porcelana de amigos para sempre.

Mas, Anita não era boba. Ela percebeu que o duende esfregara as mãos enquanto falava e sentiu um cheiro de tramoia no ar. Ela decidiu responder:

"Não, valeu. Bolo de laranja é mais gostoso. Ô duende, se quiser, eu trago um pedaço para você amanhã". Pode ser? 

E Anita saiu em disparada. Margeou o arco-íris, correu, puf puf puf. Voltou para o sítio.

No outro dia, choveu de novo e no céu se formou um arco-íris. Anita cumpriu sua promessa e conversou mais um pouquinho com o duende. Ele não era tão chato assim... Decidiu que voltaria no outro dia para brincar de esconde-esconde com ele (sua brincadeira favorita). Isso durou uma semana, o período mais chuvoso do mês inteiro.

No domingo, Anita não pôde ir brincar, porque nenhum arco-íris se formara no céu. Ela se entristeceu e decidiu ir dormir mais. No seu travesseiro, um saco pesado tilintava. E um bilhete o acompanhava: obrigado pelas férias divertidas, Anita. Você é minha primeira amiga de verdade e não de porcelana. Esses, eu liberei da minha vida. O ouro é uma pequena lembrança de que voltarei nas próximas férias. Adeus. 

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2 comentários

  1. Poxa Bruna, agora você me fez lembrar do sítio dos meus avós! Eu sempre sonhei em ir até o fim de um arco-íris mas nunca consegui realizar esse sonho, porém eu fazia altas tripulias quando passava as férias lá, foram bons tempos da minha infância. Agora fazer amizade com um duende foi uma reviravolta interessante, hein? Gostei disso!

    Que maneira curiosa de se fazer alguém rico, não é mesmo? :)

    Beijos, Snow!

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    1. Bonjour, miss Snow. Ça va?

      Que bom que o meu texto a fez se transportar para memórias tão doces, flor do inverno. E, sim, como eu compartilhei uma vez aqui no blog, o meu processo de escrita é bem kamikaze. Não sei como a história se desenrolará logo na primeira frase, o texto me leva com ele, ao contrário do que seria o esperado, hihi. Mas, obrigada pelo gentil comentário.

      Beijos açucarados e au revoir

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