Diamante solar
Sonhei com o Sol esta noite. O Sol suando no céu escamoso. O Sol lá no alto, eu lá embaixo, contrastes de luz e de energia, além da distância entre dois pontos. De repente, eu era o Sol... O Sol suando no céu escamoso.
Meu suor era feito de fótons que se desprendiam, ora aqui, ora ali, do meu rosto. Não conseguia vê-los, mas era um alívio quando eles saíam de mim para a liberdade vazia do universo ao redor de mim. "Mas, aonde eles poderiam chegar?", peguei-me pensando enquanto era o Sol. À minha frente, haviam tantas bolas giratórias que pareciam querer receber meu suor avidamente, algumas bolas maiores, outras mais instáveis e uma única, quase no meio da fila que elas formavam, a mais colorida, parecia ter seus próprios fótons de luz e me passava a sensação de querer menos o que eu tinha a oferecer. Seria verdade?
Eu queria confirmar isso. Porém, meu estado de consciência solar era completamente desconectado dos possíveis movimentos corporais da estrela. Ou seja, eu não conseguia sair da linha em que estava parado... Minha curiosidade não seria nunca sanada? Aquela bola azul, chamada de planeta, era de fato indiferente aos meus poderes sobrenaturais de suar energia e calor?
E então, algo extraordinário aconteceu! A bola girou e girou e, então, uma ponta dela se aproximou de mim e eu conseguia ver o que estava dentro dela! Saí de meu nível universal para entrar no curioso planetinha, brilhando em um céu cheio de nuvens e poluição, horroroso e delicado ao mesmo tempo. E, então, percebi que meus fótons eram muito importantes naquele lugar. Afinal, foram eles que deram vida, movimento e barulho para aqueles pedaços de terra e mar que completavam magnanimamente a bola azulada.
Naquele estado no céu, eu como Sol era alegre. Olhava para baixo e sentia me desconectar, um fio de cada vez, uma tomada desplugada a cada instante, boiando leve pelo espaço disponível entre o céu e a terra. Eu já não era mais o Sol. Eu era eu mesma, sentia os lençóis macios tocando meus pés descobertos.
Quando levantei, havia uma pequena poça de suor em meu travesseiro. À luz negra, ela brilhava como mil sóis.
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