Resenha: O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, Jorge Amado
O temperamento do Gato Malhado não era nada bom: bastava aparecer no parque para todos fugirem às pressas. E ele não se importava mesmo com os outros, ia tocando a vida com a indiferença habitual. Até que, chegada certa primavera, o Gato nota que a Andorinha Sinhá não tem receio algum dele. Foi o suficiente para que dali nascesse a amizade dos dois, que se aprofunda com o tempo. No outono, os bichos já viam o Gato com outros olhos, achando que talvez ele não fosse tão ruim e perigoso, uma vez que passara toda a primavera e o verão sem aprontar. Durante esse tempo, até soneto o Gato escreveu. E confessou à Andorinha: "Se eu não fosse um gato, te pediria para casares comigo". Mas o amor entre os dois é proibido, não só porque o Gato é visto com desconfiança, mas também porque a Andorinha está prometida ao Rouxinol. Jorge Amado colheu a história desse amor impossível de uma trova do poeta Estêvão da Escuna, que a costumava recitar no Mercado das Sete Portas, em Salvador, e a colocou no papel com o tom fabular dos contos infanto-juvenis em 1948, quando vivia em Paris. Não era uma história para ser publicada em livro, mas um presente para o filho, João Jorge, que completava um ano de idade. Guardado entre as coisas do menino, o texto só foi reencontrado em 1976. João Jorge entregou então a narrativa a Carybé, que ilustrou as páginas datilografadas. Jorge Amado deu-se por vencido: o livro foi publicado no mesmo ano. O texto foi adaptado mais tarde para teatro e balé. Esta nova edição preserva as ilustrações magníficas de Carybé, que foram inseridas em novo projeto gráfico de Kiko Farkas. A escritora Tatiana Belinky, grande fã de Jorge Amado assim como deste livro, foi convidada para escrever o posfácio.
Infanto-juvenil // 128 páginas // Companhia das Letrinhas // nota: 4/5
A história de amor entre um gato rabugento e temido no parque aonde mora e uma andorinha alegre e petulante. Seria um romance trágico, se não fosse escrita pelo cânone, o divertido Jorge Amado. E se não fosse um romance infanto-juvenil.
Mas, o charme do livro não é tanto o enredo, mas sim a forma como o autor nos conta essa história. Primeiro, ele conta as aventuras da Manhã que se apaixona pelo Vento, mas, desiludida, vai conversar com o tempo e conta uma história para ele. A história contada é a do Gato Malhado e da Andorinha Sinhá.
Se já não bastasse o conto que dá nome ao livro ser contado dentro de outra história, Amado ainda divide o romance de acordo com as Estações, dando uma carga poética ainda maior ao trágico casal. Lendo essa resenha, você deve estar imaginando que é um livro triste... Só que não! E também por uma escolha estilística, pois o autor quebra a quarta parede e conversa com o leitor, brinca com ele e deixa tudo mais leve. Afinal, é um livro para crianças, não é mesmo?
Fui tão sortuda por ter esses dois bibelôs que serviram direitinho para mostrar os dois lindos protagonistas da história |
Talvez não só para crianças, como critica Tatiana Belinky. Esse é um livro para todos nós que queremos embarcar em um mundo de imaginações tão reais, dolorosamente, preconceituosamente reais, que chega a ser mais um ensaio do que um conto infantil. E o final, que não me agradou em nada, não poderia ser outro também... Um livro que nos encanta pela forma e nos faz chorar de amor não realizado pelo conteúdo.
E você já leu? O que achou do livro?
Au revoir.
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