abecedário

by - agosto 19, 2021


Ana saiu de casa em um dia de chuva. Borboletas aflitas recolhiam suas asas, enquanto os pingos grossos de chuva pela calçada caíam. Casas de muro alto brilhavam com os últimos reflexos de sol batendo contra o vidro molhado. Dante fechava a porta de casa quando escutou um grito assustado. Ela, uma garota misteriosa de curtos cabelos cor de mel, balançava as mãos de um lado para o outro em busca de equilíbrio. Fazia cena depois de escorregar em uma poça lamacenta perto da jardineira. Gargalhou, Dante, com um pouco de vergonha pela sua reação. "Havia alguém mais esquisita do que aquela moça?". Indignada, Ana foi em busca de satisfação. Jogou a bolsa surrada de lado, abandonou o guarda-chuva danificado em um canto e, com dedo em riste, se aproximou de Dante. "KKKK, foi isso o que eu ouvi, senhor?". Logo, Dante conteve a risada em um resfolego preso à garganta, assumindo um ar mais sério. "Me desculpe, moça. Não ri de você, não, apenas de uma mensagem que apareceu no meu celular". Nariz empinado, Ana soltou um breve "humpf!" para um Dante surpreso. Olhou para os dois lados da calçada deserta e foi atrás da moça de cabelos cor de mel. "Posso ajudar você de alguma forma?", Dante perguntou para as costas da jovem que se abaixava para recolher o inútil guarda-chuva. "Que siga com a sua vida, obrigada", respondeu Ana, balançando a franja recém-cortada, em tom de desafio. Rindo internamente, Dante pensou que a moça ficava muito bonita com as bochechas vermelhas de raiva. "Sem problema, moça. Mas, tenho um guarda-chuva que posso compartilhar com você... Poderia levá-la só até aquele ponto de ônibus ali ó", respondeu Dante. Torcendo a ponta desfiada do cachecol para que ele parasse de pingar em seus sapatos, Ana olhou diretamente nos olhos do rapaz. "Um dia o retribuirei pela ajuda, então, aceito. Sou Ana". Vendo mil jades nos olhos dela, Dante era um viajante de Stevenson que acabara de encontrar o seu tesouro perdido. "Xan... Van... Dante", respondeu, buscando apoio no cabo do guarda-chuva que abria com dificuldade. Yin e Yang ali se encontravam, presos no loop temporal que um dia de chuva provoca nos moradores de cidade grande. Web search por: falha na Matrix. Zás trás, que nada; são apenas dois enamorados.

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6 comentários

  1. Você escreve muito bem!! Amei essa forma de estruta de texto e a história. É de aquecer o coração o final haha. Dante conseguiu conquista-la com sua persistência.
    Abraços!!!

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    1. Muito obrigada, JohnHyun! Estou tão contente por vê-lo novamente em meu querido jardim, a sua presença é sempre bem vinda. Sim, o Dante conseguiu conquistá-la, ahn? Será que no futuro veremos uma continuação desse cenário? Beijos açucarados e au revoir.

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  2. Legal tua história! Dante
    Não Alighieri, era
    Insistente e à espera
    Ganhou novo amor bastante
    Dificultado diante
    De todo o acontecimento.
    Porém insistente e lento
    Conseguiu um grande amor
    Como quem cultiva a flor
    Graça ao esforço no intento.

    Parabéns pela postagem. Abraço cordial. Laerte.

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    1. Senhor Silo Lírio, eu simplesmente adorei o seu poema! Que lindeza, um resumo perfeito ao amor puro e gentil que surgiu de supetão entre os nossos protagonistas. Muito obrigada por isso! Espero que goste dos meus outros textos também. Au revoir!

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  3. Amei a escrita e a história <3
    ja quero mais dos dois hahahah

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    1. Muito obrigada, Clayci! Será que num futuro próximo veremos mais de Dante e Ana? Beijos açucarados e au revoir.

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