Entrevista: Larissa Fonseca, blog As Moscas na Janela

by - abril 24, 2020


Brincando com as palavras, ela as costura no véu da poesia, estrelado céu que a rodeia. A Larissa nos engendra em uma teia formada por letras, tal qual moscas encantadas pelo brilho - sua imaginação - dos múltiplos olhos da princesa Aracne. Eu tive a alegria de conversar com ela e, gentilmente, ela me revelou os motivos que fizeram seu blog, As Moscas na Janela, ser o que é hoje. Vem comigo?
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O que te fez criar um blog?

Há muitas respostas possíveis para essa pergunta, especialmente se eu levar em consideração três “momentos bloguísticos” pelos quais passei. O primeiro, quando eu tinha treze anos, me levou a criar o Jeito Único: a motivação foi a vontade de ter um espaço, na internet, similar às revistinhas físicas que eu inventava e inspirado nos sites adolescentes que eu lia. O segundo, quando eu tinha ali meus dezesseis anos, gerou O Único Jeito: a ideia era que meu blog amadurecesse tal como eu tinha amadurecido, até então. O Único Jeito era metade blog pessoal e metade blog literário, mas deixava de lado várias outras temáticas (música, artesanato, cinema, moda...) nas quais eu me aventurara até então. O terceiro momento, o do As moscas na janela, foi quando eu percebi que não estava mais “me encaixando”, por assim dizer. Eu queria a liberdade do puramente artístico, do literário, sem ficar me preocupando com tomadas de opinião, contradições, faltas etc. Eu queria, por meio do que observo, sinto e transformo em palavras, explorar diferentes possibilidades de ser e estar. Brincar com perspectivas. Algo assim.

Como você decidiu o título dele?

Lembro que fiquei vários dias brincando com possíveis nomes... O As moscas na janela, ao qual eu cheguei sabe-se lá por que associação, vem de um poema que eu tinha escrito em 2014.  Tanto o poema (reeditado) quanto um conto, criado especialmente para captar o que então eu tinha em mente, estão na página “as moscas” do blog. Em resumo: palavras enquanto moscas, presas do lado de dentro, incomodadas e incomodando. Se as moscas querem transpor o vidro da janela para alcançar a luz, as palavras também. E a partir daí dá para pensar um monte de coisas. Na verdade, dá até para pensar outras coisas que não sejam “a partir daí”. Acho que é por isso que eu amo literatura: possibilidades. Possibilidades infinitas.


Quais são suas inspirações na hora de escrever seus contos?

A maior inspiração é a sensação que eu sinto quando eu leio algum conto que acho incrível. É uma espécie de deslocamento seguido de satisfação. Claro que esse deslocamento pode ser tanto algo mais profundo, como uma mudança de perspectiva sobre algo, quanto a ideia do imaginário mesmo, de abandonar tempo e espaço por uns momentos. Os meus contos, em si, são tentativas de causar algo ao menos parecido em que me lê. Para isso, uso de também de outras inspirações: casos que as pessoas me contam, manchetes de jornal, anexos da Wikipedia, palavras aleatórias em dicionários...

Qual é seu objetivo na divulgação de seus trabalhos escritos?

Gosto de mostrar o que escrevo. Gosto mais ainda de imaginar que alguém pode apreciar esses escritos. A estes, então, é necessário um acesso fácil. Daí que eu ache a internet uma ferramenta maravilhosa!

Qual é seu post favorito do blog? Por quê?

Não tenho um preferido, mas, enquanto dois exemplos de posts que me deixam feliz por tê-los escrito, posso citar o “Ponhamos-no”  e o “Leonam”. O primeiro, um poema, porque foi algo imediato: a constatação que ele abarca veio de um dia em que eu estava me sentindo nervosa e agoniada e, quando me permiti uma pausa para parar e respirar, olhando o céu, me dei conta da própria importância daquele momento em si – parar, respirar. Acolher os pássaros de volta. No mesmo dia escrevi o poema, direto no computador (em geral, escrevo os poemas primeiro à mão), juntei as fotografias e postei. E me senti bem por isso. O caso do conto “Leonam” foi o contrário: quatro Natais se passaram antes que eu sentisse que aquela história de Natal estava legal para postar. Foi um orgulho misturado com alívio, quando isso aconteceu.


O que te fez criar um blog e não uma outra plataforma digital como YouTube ou Tumblr?

Não tenho experiência com essas outras plataformas, mas gosto do fato de o blog abraçar e guardar bem minhas palavras escritas, e de ser tão personalizável. É algo íntimo, ainda que aberto, e, apesar de obsoleto, é resistente. Há, no As moscas na janela, textos que escrevi em 2012!

Como foi o processo de transição para o Instagram? 

Confesso que ainda estou no processo... Até ano passado, eu tinha tido poucas experiências com essa rede social, e a intenção, quando resolvi voltar a ela, era mais postar fotografias de natureza com algum trecho literário enquanto legenda. Depois eu senti vontade de criar alguma identidade ali, então resolvi acrescentar o texto (no caso, os poemas) à imagem. Mas não de forma digital; foi quando recorri ao artesanal, em forma de “journals fotografáveis”. Atualmente, mesmo os journals ficaram de lado e tenho apostado em textos junto a elementos que conversem, de alguma maneira, entre si. Vamos ver.

Você já pensou em desistir do blog? O que te fez ter esperanças e continuar?

Devo ter pensado, mas não devo ter levado a sério. É difícil até imaginar como seria minha vida sem o blog, porque é algo muito presente no meu dia a dia, nos meus planos, por vezes até em minhas conversas. Então, no meu caso, não se trata nem de envolver esperança, porque é algo que já faz parte... Creio que, enquanto escrever for uma atividade prazerosa para mim, terei um blog para guardar esses escritos.


Qual é a mensagem que você deseja passar com seus posts?

Mensagem, em si, acho que nenhuma... Mas gosto que as pessoas se sintam confortáveis em meu blog, sabe? Que seja um cantinho acolhedor e inspirador, e que os posts forneçam uma leitura agradável. 

Você pretende compilar seus contos postados no blog em uma antologia?

Pretendo! Nem que fique apenas no ambiente virtual mesmo, em forma de PDF “upado” no Google Drive

Qual é sua forma de escrita preferida: poesia ou contos? Por quê?

Isso vai da fase pela qual eu estiver passando... Uma vez que a escrita de poemas e a escrita de contos são processos tão diferentes, com intenções e efeitos tão diferentes, isso vai da predisposição com a qual eu estiver para escolher um ou outro. Nos últimos meses, por exemplo, preferi poemas. Escrevi dezenas deles. Agora estou começando a sentir falta dos contos...

Você quer acrescentar algo que deixei passar?

Gostaria apenas de agradecê-la, mais uma vez, por esta entrevista. Além de ter me sentido honrada com o convite, foi interessante, enquanto eu respondia as perguntas, refletir sobre minha relação com o blog e com a escrita. Acho que não me permito muitos momentos para pensar nisso, então foi ótimo! Muito obrigada!

* fotos disponibilizadas pela Larissa

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8 comentários

  1. Oi, Bruna tudo bem? Que entrevista maravilhosa, fiquei encantado com a simplicidade da entrevistada. Parabéns as duas, entrevistadora e entrevistada. Abraço!


    https://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/

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    1. Bonjour, monsieur Luciano. Ça va?

      Fico muito contente pelo senhor ter gostado de nossa entrevista. De fato, a Larissa é uma pessoa muito interessante e que consegue formular magias com as palavras, por isso, as suas respostas foram tão fáceis de serem entendidas e sua mensagem, fácil de ser interpretada por todos.

      Volte sempre a nos visitar. Au revoir

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  2. amei! passei a admirar mais o moscas na janela agora ♡

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    1. Bonjour, miss Liz. Ça va?

      Ai que coisa maravilhosa! Então, consegui cumprir com o objetivo de trazer uma entrevista com ela aqui para o meu cantinho. Tenho certeza de que vai se apaixonar mais e mais pelo blog dela à medida em que se embrenhar por suas teias de palavras.

      Beijos açucarados e au revoir

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  3. Que incrível, eu lembro do blog dela quando ele tinha outro nome, daí por acaso hoje encontrei de novo hahahaha, amei!

    Beijo, Bru.
    maniadebruna.com.br

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    1. Bonjour, miss Bruna Ça va?

      Primeiro: adorei que somos xarás, hihi. E segundo: aaaa, que incrível! Minha singela entrevista proporcionou reencontros! Que massa! Por favor, volte sempre a borboletar por aqui também, ok?

      Beijos açucarados e au revoir.

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  4. Nossa, gostei muito da entrevista. Comecei a acompanhar a Larissa quando o blog ainda estava no comecinho, e depois de um tempo a reencontrei. É muito bonito ver como ela foi amadurecendo com o passar do tempo, e ao mesmo tempo conversou sua simplicidade e delicadeza. Seus poemas realmente tocam o meu coração!

    https://petalasdemaio.blogspot.com/

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    1. Bonjour, miss Gabriela. Ça va?

      Acredito que a miss Larissa deve ter ficado felicíssima por seu comentário. Muito obrigada pela visita ao meu cantinho, flor do campo. Beijos açucarados e au revoir

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