One page story challenge: to motivate a friend to start something new

by - junho 14, 2020

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(motivar um amigo a começar algo novo)

Judite não sabia nada sobre piano. Ela desconhecia Bach, Beethoven e Mozart. Ela não sabia qual era a diferença entre um piano e um teclado ou um órgão. Mas, Judite precisava aprender a tocar piano em menos de três dias. Era uma questão de vida ou morte. De luz e sombras. Ela precisava manter seu emprego.

Judite arranjara um emprego de meio período na antiga loja de brinquedos do bairro. Lá estava um caos, porque era bem a semana do Natal e pais desesperados saíam às pressas de uma seção para a outra, de uma esquina para a outra, como abelhas em colmeias carregadas de mel, na busca pelo presente ideal para seus filhos. O dono da loja, seu Juarez, nunca imaginaria que aquilo aconteceria um dia com sua modesta loja.

A neta - dezesseis anos, rosto acnento e com um sorriso metalizado lindo que o embelezava - tivera uma ideia para alavancar as vendas da loja do avô em Novembro, depois de uma conversa franca com suas amigas que tinham irmãos mais novos: criar uma conta no Instagram para a antiga lojinha, bem ao estilo vintage, que resgatasse o amor de todos por brinquedos de madeira e pano bordado. A dedicação dos dois dera resultados estrondosos em pouquíssimo tempo: o riso solto de seu Juarez e os contatos de sua neta fizeram a loja viralizar na web. O resultado: a loja já não podia mais respirar em meio a tantos ocupantes desesperados em Dezembro.

Claro que seu Juarez não daria conta de tocar a loja sozinho. Por isso, ele colocou uma plaquinha de "Precisa-se" na janela oeste da loja. E, também por isso, que a vaga foi logo ocupada pela sortuda Judite que passava cabisbaixa pela avenida naquele exato instante em que seu Juarez pregava a plaquinha, e com três palavras (mais exatamente, "faço qualquer coisa") apenas, conseguiu o cargo de vendedora, subgerente e faxineira paft-puft.

Uma semana se passou na maior alegria. Contudo, Judite não estava esperando por aquilo. O que mais ela poderia responder quando seu Juarez, em uma tarde de sexta-feira, perguntou a ela: "mas, Judite, você toca piano? Eu tava é pensando em gravar umas musiquinhas originais pra loja, sabe, aquelas clássicas de Natal e eu queria saber se você pode me ajudar com isso. Melhor música original, você não acha também?". O sorriso amarelo a denunciou? Nunca! Porque em dois palitos, Judite respondeu bravamente: "mas, é claro que eu toco. Pode deixar comigo, Jura!".

E. COMO. ELA. APRENDERIA. A. TOCAR. O. BENDITO. PIANO. EM. TRÊS. DIAS?

YouTube? Será que teria algum professor de piano que toparia em ensinar o básico para ela por menos de R$ 200? Era tudo o que sobrara do salário dela naquele mês de Novembro... E se ela fosse em uma loja de música e ficasse por lá vendo os outros tocarem até absorver alguma coisa?

O que havia feito a pobre Judite ao responder "sim" para o seu chefe?

E, então, Judite olhou para o mural de cortiça pregado no ponto de ônibus. Ele dizia: "ensino você a conquistar tudo o que deseja em apenas dois dias". Dois dias? E ainda sobraria um para escolher o repertório! Judite pegou um dos papeizinhos com o endereço do lugar e seguiu em sua busca por conhecimento. Chegou à rua. O lugar era uma portinha simples com duas janelas pregadas a uma porta de alumínio dupla face. Nada indicava que o endereço era ali, apenas o número na porta... Judite tocou a campainha.

Uma senhorinha desceu para abri-la. Um coque apertado repuxava seus fios brancos. Ela usava um xale roxo por cima do vestido de poás laranjas. Botas de couro macio cobriam seus pés. A senhora olhou para Judite com um misto de anseio e desdém. "O que deseja, jovem?", ela questionou.

Judite explicou tudo. Sobre a lojinha, seu emprego e o piano. Sobre Mozart (um compositor de dentes brancos como um colar de pérolas) e sobre as músicas de Natal do seu Juarez. Em nenhum momento, foi convidada a entrar.

A senhora ouviu a tudo com atenção. Depois da longa explanação, respondeu: "menina, eu só tenho três ordens para lhe dar que resolverão a tudo com maestria. Escute bem com atenção e faça o que eu mandar, senão lhe lanço uma praga que fará crescer erva daninha por seu jardim inteiro. Primeiro, volte ao seu trabalho e peça desculpa para o seu chefe. Diga que falou aquilo de cabeça cheia e que nunca mais fará isso. Ele lhe desculpará, senão não me chamo Odette! Então, volte para casa. Lá você encontrará livros de aulas de piano. Treine com fervor durante três meses. Lá pela Páscoa, você poderá cumprir com sua promessa ao seu Juarez. É dito e feito, flor. O segredo de começar algo novo é ter coragem e determinação, não procurar por coisas mágicas".

Judite se ofendeu com o papo da velha senhora, mas ficou com medo das ervas daninhas também. Fez tudo o que ela recomendou e manteve o emprego, transformando-o de temporário para permanente. Também aprendeu a tocar piano e fez um baile de Páscoa na loja de brinquedos antigos do Jura.

Judite decidiu que era sua obrigação agradecer à velha senhora. Voltou ao endereço. Quando bateu à porta, um jovem de óculos tartaruga atendeu: "O que deseja, jovem?", ele perguntou. Judite disse que queria agradecer a sua avó pelo aconselhamento. "Mas, que vó, ô? Aqui é um escritório de contabilidade há mais de vinte anos. Desculpa, mas você veio ao lugar errado, moça".

Judite não entendeu nada. E ainda levou uma maçanetada na cara!

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2 comentários

  1. Olá Bruna, como tem passado?
    Espero que bem, de verdade. Pois lendo esse texto você me deu uma motivação da qual precisava, minha cara! E mesmo com meus olhinhos cansados de sono, vou me lembrar dessa escrita faceira e leve na hora de produzir o que me estava empacado :)

    Obrigada, viu? Seu texto estava lindo e mensagem nele também.
    Beijos, Snow!

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    Respostas
    1. Muito obrigada, miss Snow!

      Beijos açucarados e au revoir.

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