Refúgio
O vento passou por entre os fios de seu cabelo. Curto, levemente ondulado, castanho. Duas tranças se encontravam no centro de sua cabeça, formando uma nova trança longitudinal. Flores pequeninas entremeavam o trançado, trazendo ao penteado dela um toque romântico de uma fada do campo - "mosquitinhos". Ao final, uma coroa de flores recém-colhidas que ela mesma fizera antes. Seus cabos pipocavam em diferentes ângulos, formando um círculo tridimensional que exalava aromas sutis, e as flores que a compunham coloriam sua cabeça alegremente.
A simplicidade de suas roupas a inseriam organicamente no cenário em que estava. Era um vestido que possuía um rodado leve e bordados caseiros na barra. O tecido de algodão havia sido tingido de amarelo girassol e uma gola ao estilo da camisa de Peter Pan a deixava, ainda mais, parecida com um personagem de conto de fadas.
Seus pés descalços roçavam a grama verde. Aqui e ali, ela tinha que desviar dos dentes-de-leão que brotavam do chão do campo ao seu redor. Às vezes, ela também tinha que desviar das fileiras de formigas que voltavam de expedições a piqueniques em busca de comida. Tão pequeninas! Para não pisar nelas, ela dava pulinhos e um sorriso brotava em seu rosto.
Mas, aonde ela estava? Você talvez esteja se perguntando...
O nome do país, eu não sei. Mas, ela estava em algum lugar e, em algum tempo, aquele lugar era um refúgio para vários seres vivos que por ali passavam ou que viviam lá. Ela conheceu aquele ambiente quando era uma garotinha. Sua mãe gostava de a levar ali para colher as flores que enfeitavam sua casa. Lá também as duas iam para fazer piqueniques e festas do chá a cada duas semanas, momento em que dançavam com laços de fita, liam as aventuras de Peter Rabbit e do Pequeno Urso e escreviam cartas para pedir às fadas que deixassem a primavera durar um pouco mais.
Depois que sua mãe decidiu comprar uma casa no centro da cidade (para ficar mais perto da escola nova em que dava aula), ela passeava por aqueles campos sozinha, pois lá era o seu refúgio também. Era naqueles campos rodeados por uma floresta não muito densa que ela se conectava consigo mesma e sentia a felicidade mais pura do mundo.
Seus melhores amigos estavam por lá: coelhos assustados, raposas desconfiadas, passarinhos que cantavam belas melodias a plenos pulmões e esquilos destemidos que chegavam bem pertinho dela para lhe roubar avelãs. Para os mais próximos, ela lhes havia dado nomes tirados dos livros que pesavam as paredes de seu quarto - Aberforth, Sophie, Estevão, Winnie. E ela os seguia floresta adentro, pois acreditava que lhe mostravam caminhos mágicos para a Vila das Fadas (mesmo que ela os perdessem de vista em poucos minutos sempre), aonde poderia, finalmente, abracá-las e agradecer-lhes por colorirem o mundo tão bem.
O seu refúgio também lhe servia de inspiração para suas pinturas. A arte fora ensinada a ela por seu avô paterno, que havia trabalhado como ilustrador de livros infantis por toda a vida, em domingos alegres de sua infância, quando ia visitá-los e aproveitava para almoçar por lá. Todo fim de semana, ele guiava sua mão ansiosa e temerosa pela tela e a ensinava as combinações de cores mais críveis para retratar o mundo a seu redor. Ela adorava poder se sujar com tinta sem que seus pais ralhassem por causa da roupa. E também gostava muito de como seu avô enrolava o bigode para cima sempre que não sabia se a flor que estava pintando era vermelho claro ou laranja.
Desde então, ela ia para seu refúgio em busca das mesmas inspirações que seu avô tivera na infância para se tornar um artista. Os resultados que conseguia eram tão belos quanto, mas nunca eram perfeitos para ela. E ela seguia tentando, tentando e tentando...
Outra coisa que ela fazia era construir coroas de flores. Na primavera, sua casa vivia repleta de arcos delicados que espalhavam pétalas pelos corredores. Seu irmão menor ficava fascinado com a profusão de flores e, por diversão, catava todas as pétalas que caíam e jogava para cima, formando uma chuva multicolorida. As mãos dela até doíam pelo trabalho de fixar as flores no arame, mas ela não sentia de jeito nenhum e, para um corte ou outro, colocava um curativo com estampa de abelhinhas.
Seu refúgio era onde escolhia fazer maratonas literárias nos dias de verão. O sol batia lá até bem depois das seis da tarde, o que lhe permitia ler mais de 100 páginas todo dia. Além disso, lá estava sozinha e conseguia ler em voz alta, interpretando seus personagens favoritos, dançando quando eles dançassem, pulando de susto com passagens terroríficas e sonhando acordada. Quem sempre lhe estimulou a ler foi seu pai.
Ele era o editor-chefe do Jornal da cidade em que moravam, o Jornal da Lua, e era um perfeito rato de biblioteca. Havia lido livros bons. Havia lido livros ruins. Mas, sempre dizia que cada livro devia ser lido e que todos tinham o seu leitor perfeito, para o qual seriam os livros de cabeceira da vida inteira. Ela se fascinava com esse amor e, logo com três anos, já sabia ler. Seu quarto, além de flores, tinha livros espalhados por toda parte.
Seus melhores amigos estavam por lá: coelhos assustados, raposas desconfiadas, passarinhos que cantavam belas melodias a plenos pulmões e esquilos destemidos que chegavam bem pertinho dela para lhe roubar avelãs. Para os mais próximos, ela lhes havia dado nomes tirados dos livros que pesavam as paredes de seu quarto - Aberforth, Sophie, Estevão, Winnie. E ela os seguia floresta adentro, pois acreditava que lhe mostravam caminhos mágicos para a Vila das Fadas (mesmo que ela os perdessem de vista em poucos minutos sempre), aonde poderia, finalmente, abracá-las e agradecer-lhes por colorirem o mundo tão bem.
O seu refúgio também lhe servia de inspiração para suas pinturas. A arte fora ensinada a ela por seu avô paterno, que havia trabalhado como ilustrador de livros infantis por toda a vida, em domingos alegres de sua infância, quando ia visitá-los e aproveitava para almoçar por lá. Todo fim de semana, ele guiava sua mão ansiosa e temerosa pela tela e a ensinava as combinações de cores mais críveis para retratar o mundo a seu redor. Ela adorava poder se sujar com tinta sem que seus pais ralhassem por causa da roupa. E também gostava muito de como seu avô enrolava o bigode para cima sempre que não sabia se a flor que estava pintando era vermelho claro ou laranja.
Desde então, ela ia para seu refúgio em busca das mesmas inspirações que seu avô tivera na infância para se tornar um artista. Os resultados que conseguia eram tão belos quanto, mas nunca eram perfeitos para ela. E ela seguia tentando, tentando e tentando...
Outra coisa que ela fazia era construir coroas de flores. Na primavera, sua casa vivia repleta de arcos delicados que espalhavam pétalas pelos corredores. Seu irmão menor ficava fascinado com a profusão de flores e, por diversão, catava todas as pétalas que caíam e jogava para cima, formando uma chuva multicolorida. As mãos dela até doíam pelo trabalho de fixar as flores no arame, mas ela não sentia de jeito nenhum e, para um corte ou outro, colocava um curativo com estampa de abelhinhas.
Seu refúgio era onde escolhia fazer maratonas literárias nos dias de verão. O sol batia lá até bem depois das seis da tarde, o que lhe permitia ler mais de 100 páginas todo dia. Além disso, lá estava sozinha e conseguia ler em voz alta, interpretando seus personagens favoritos, dançando quando eles dançassem, pulando de susto com passagens terroríficas e sonhando acordada. Quem sempre lhe estimulou a ler foi seu pai.
Ele era o editor-chefe do Jornal da cidade em que moravam, o Jornal da Lua, e era um perfeito rato de biblioteca. Havia lido livros bons. Havia lido livros ruins. Mas, sempre dizia que cada livro devia ser lido e que todos tinham o seu leitor perfeito, para o qual seriam os livros de cabeceira da vida inteira. Ela se fascinava com esse amor e, logo com três anos, já sabia ler. Seu quarto, além de flores, tinha livros espalhados por toda parte.
Em um dia de outono, ela se despediu de seu refúgio. Mas, voltaria dali a alguns meses pronta para novas aventuras. Ela tinha que ficar por mais tempo na cidade, pois começaria a dar aulas para a turma de jardim de infância da escola onde sua mãe trabalhava. Estava contente, muito contente, pois conseguiria mostrar a eles o quanto a Natureza era fascinante! E, quem sabe, os levaria em seu refúgio também?
6 comentários
Ah que doce :) Me vi nessa paisagem e queria eu ter o privilégio de conhecer um lugar assim, me fez sonhar acordada, obrigada :D
ResponderExcluirBeijos doces ^.^
Bonjour, miss Jenny.
ExcluirEstou contentíssima por poder te proporcionar uma sensação tão terna com minhas palavras. Sabe o que percebi só agora? Todos os seus comentários não apareciam para mim, eles ficavam guardados para moderação :(
Ainda bem que vi e arrumei. Peço desculpas por ter demorado tanto para saber disso.
Beijos açucarados
Que alma linda essa personagem tem!
ResponderExcluirBonjour, miss Larissa! Que alegria te ver borboletando por meu jardim secreto :)
ExcluirBusquei colocar toda a positividade e amor pela Natureza que existem em mim nessa personagem. Fiquei muito contente ao perceber o quão cativante ela ficou depois disso. AH, como eu gostaria de poder ter um pedacinho desse "refúgio" dela aqui em São Paulo...
Beijos açucarados.
Fiquei encantada com esse texto, é o que o imagino quando caminho em qualquer gramado com árvore da minha cidade, ou apenas estar a beira mar. Claro, parte disso se deve a minha imaginação mas poder ler algo assim é aconchegante, com detalhes que o fazem ainda mais acolhedor. Está muito bonito! E quando li "todos tinham o seu leitor perfeito" pensei no quão diferente e comum de se pensar dessa forma, acho que ainda não encontrei o meu preferido, gosto de muitos mas acho que esse ainda não deu as caras.
ResponderExcluirEstou aqui para agradecer a visita no meu clube, cara Bruna!
Fiquei surpresa por ver uma pessoa diferente e ainda me chamando pelo meu nome (isso é tão estranho aqui pelo Blogger, ah-haha) mas honestamente, é algo diferente do que o esperado então, isso deve ser algo bom.
Agradeço de coração pelos elogios (aquele layout é um dos meus queridos, tamanha dedicação que coloquei nele) e que surpresa você ter me achado pela Bia, bom saber que causei uma boa primeira impressão.
O filme realmente é algo a parte, de todas as formas possíveis ele é algo a parte de tudo o que você pode buscar sobre Van Gogh. É realmente voltado para uma ótima humana e poética, procurando dar uma outra visão ao pintor, o que me agradou muito visto o que se pode ler sobre ele por aí. Me questionei sobre como o via e como o vejo depois de ter visto o filme, aí deu naquela postagem :)
Espero poder voltar aqui mais vezes.
See ya'
Miss Letícia, que bom, que bom te ver aqui em meu cantinho! Mais uma vez, a Internet me deu um presente que é sua visita. Posso continuar a te chamar por seu nome? Não me importaria de forma nenhuma em a chamar de miss Snow, pois a neve é uma das coisas mais belas que a natureza fabrica e eu gostaria muito de poder conhecê-la um dia.
ExcluirSomos fãs de Love Vincent! Gostaria de que outras cinebiografias de artistas fossem feitas ao estilo desse filme, cada uma com o traço característico de cada pintor. Seria uma coleção linda, não?
Agradeço pela visita. Espero a ver por aqui mais vezes.
Beijos açucarados