Ele só sabia amar em borboletas Leve, divertido e vaidoso era o seu olhar Tal como frágeis asas, Ruflava as amostras de paixão a que ele a presenteava. Ele só sabia amar em borboletas E as prendia em seu jardim de inverno como lembrete De que se apegar é um sinal de fraqueza Mas, cultivar um pequeno séquito, é do poder, a certeza. As asas que levava tatuadas em seu pescoço Germinavam em panapanás no estômago dela E ela sabia que aquele não era um amor seguro, E, entre mármores e argila, chorava Por um coração dilacerado por asas tão finas E um futuro seguro construído na infância, despedaçado. Mas, ela decidiu sair do casulo Brincar de borboleta, mesmo tendo asas rígidas pela insegurança. Rodeou o homem-borboleta para perdoá-lo Ele, amadurecido pelo amor que tinha por ela, perdera suas asas E voltara a ser lagarta, comum e natural, como punição. Quando a nova borboleta o perdoou, ele caiu em lágrimas, Lágrimas salgadas que, antes, misturara com um sorriso doce Não esperava ganhar, após inúmeras derrotas Ganhou, chorou. Ela decidiu amá-lo. Ou melhor, ela aprendeu a se amar. Queria viver um romance intenso como a brevidade E perdurar a alegria eternamente, enquanto durasse. E os dois fecharam o relacionamento Com o selo da confiança de que ele, instável, Não criaria mais nenhum outro inseto.
*aviso de gatilho Mesmo na rua escura, ele chamava por ela. Olhos vidrados, o gato laranja que atormentava os ratos da rua jazia no chão. O cheiro da putrefação de seu gordo corpo estacionava no ar gelado. Se antes, os ratos bolorentos o temiam, agora, eles faziam a festa em sua ferida mais exposta. Fora morto dois dias antes com veneno, a sua sétima vida levada ao sabor de latas de atum e serenatas ao luar, sempre tranquilo, sempre arisco, sempre antenado. Mas, agora, ele era apenas uma massa disforme em meio ao caos da viela escura. Ao passar pelo gato, Antônio cobriu o nariz com um gesto de desaprovação. Suas roupas largas denunciavam a vida difícil que levava: a vida de um escritor em crise. Os óculos de aro redondo escondiam, porém, grande parte da beleza que lhe era natural. Olhos amendoados herdados do pai, mas com a diferença de os de Antônio, vermelhos e irritadiços, não conseguirem focar em um objeto por um tempo maior do que cinco segundos. Os cabelos lisos seriam inesperadamente sedosos se, contudo, Antônio não os mantivesse sempre cortados à régua, máquina 2. E os suspensórios, guardiões de calças de algodão cru tingidas de carmim, eram o destaque óbvio do conjunto visual que ele formava. Escritor, poeta, Antônio tinha um perfil de artista comum à boemia paulistana. Seguro de si, mesmo que a boca tremulasse pelo efeito das bebedeiras noturnas, seus olhos desfocados mantinham o ar de inflamada superioridade quando conversava com seus companheiros. De espírito leve e jovem, Antônio tinha o seu pequeno séquito de seguidores, todos aspirantes às Letras, assim como ele, porém, com bem menos talento. Porque se, para alguns, Antônio não passava de um burguês padrão de vida fácil e Europa nas férias; era inegável, todavia, que Antônio era talentoso. Seus textos tinham aquela vírgula incomum de sagacidade gentil, natural de mentes únicas e que ainda possuíam o frescor da juventude em suas almas. Assim, Antônio virou figura recorrente em saraus e concursos de escrita organizados por sua universidade. Mas, nada que ele fizesse poderia anular a sina que ele carregava: Antônio era um escritor. Suas roupas cheiravam a caneta-tinteiro. Sua dor se conspurcava apenas pelas palavras que a sua mente disparava em um datilografar ensandecido. E sua vida girava ao redor de histórias inacabadas, personagens traiçoeiros e cenários vazios de espírito. Até que, um dia, Antônio amou pela primeira vez. Apaixonou-se por um par de olhos verdes que tinha um excelente gosto musical. Entre bailes, cafés, parques e bibliotecas, seu namoro durou nove meses inteiros. O olhar de Antônio se tornara ainda mais desfocado, conectando-se apenas com os olhos verdes que escondiam em si a preciosidade do universo. Mas, então, os olhos verdes tornaram-se constantemente inundados. E a pequena boca que os acompanhava, pálida e ressecada, só ganhava tons de carmim quando o sangue que saía de seus pulmões lhe jorrava. E, então, vítreos, como os olhos do gato que Antônio olhara com asco anteriormente, se tornaram os olhos de sua amada. A rua estava escura, mais um dia sem Lua na capital. Mas, Antônio não se importava com a ausência de algo que já não existia mais em sua vida. Todo o potencial de seu futuro brilhante se esvaíra junto com o sangue que manchava os lenços bordados de sua amada. Antônio, antes um escritor, agora já não percebia se algum título ainda tinha forças para definir o resto de vida que ainda, teimosamente, carregava no peito. Sua mão direita tremia. Nela, uma caneta-tinteiro. Em sua ponta afiada, borbulhava um resto de tinta preta que Antônio usara para escrever seu romance de despedida. Agora, ele seria um autor de verdade: uma obra póstuma no currículo. Antônio sorriu, procurando um fiapo de estrela que pudesse haver se perdido no céu de chumbo. Era o capítulo final, ele sabia. Afundo a caneta em seu pescoço, abafando quaisquer últimas palavras que pudesse pronunciar. Seu corpo bateu com um baque surdo no chão de paralelepípedos da viela. Os olhos nunca mais poderiam aprender a focar. Naquela rua escura, Antônio e o gato se tornaram irmãos na tragédia. E a chuva purificava os sinais de solidão.
A água que vinha do teto batia ruidosamente no chão. Lá se formava um espelho d'água meio bolorento, o limo verde crescia por entre as tábuas de madeira carcomidas pelo tempo. Em um ribombar aquoso, a goteira passava por entre as vigas que compunham a estrutura do segundo andar da casa. Deste ambiente outrora luminoso e feliz, sobrara apenas um palanque de madeira - tão carcomido e cheio de fiapos quanto o chão de baixo - e algumas peças de roupa que haviam servido de banquete às traças, logo na primeira semana de abandono da casa. Se o leitor a tivesse conhecido antes, quando, em seu auge de casa principal da rua, o barulho de festa e felicidade saía de seus poros; ele veria o quão bela era a porta da entrada principal, pintada de verde musgo, em contraste com o branco alcalino das paredes. Ele veria, também, o esmero dos donos em cultivar pequenas jardineiras nos parapeitos das janelas; e veria, com um sorriso bobo no rosto, que a casa era um tanto pequenina se comparada à imensa árvore que semiobstruía a entrada da garagem. Mas, agora, a casa era apenas um borrão triste de sua própria primavera. Abandonada à própria sorte, os degraus, que levavam o visitante até a porta da frente, haviam se desfeito em cupins gordos. Teias de aranha interligavam as paredes internas da sala, tobogãs sinistros de Viúva. A cozinha já não exalava mais aromas de biscoitos de mel e limão; tudo o que se poderia sentir era o cheiro rançoso de baratas sendo devoradas por formigas insensíveis. E os quartos, três no andar de cima mais um banheiro, tiveram seu curto reinado arruinado por ratos magrelos de pelo de algodão. Quão satisfatório era quando eles guardavam sonhos e choros em suas quatro paredes... Os sonhos de promoção no trabalho da mãe. Os choros de filmes comoventes do pai. Os sonhos e choros das duas irmãs, unidas pelo nascimento na mesma data, desunidas por o lugar de atriz principal no teatro da escola. Na casa inteira, eram os quartos que mais sentiam saudade de quando o céu não era cinza. Tão tristes eles se sentiam que, nas noites estreladas, eles choravam baixinho e a casa rangia, estalava e permitia que o vento frio entrasse em seus aposentos com o som de vultos espectrais. Mas, ó, o que seria isso? Uma forma estranha passara correndo pelo corredor! Eram sons de passos que se ouvia? Os cacos de vidro - sobras dos espelhos dourados que ali enfeitavam - que estavam espalhados pelo chão, porém, não sentiam o peso de alguém os quebrando. E o que dizer do bruxulear que vinha da sala? A casa sentia que estava viva novamente! Podia sentir o aroma de lavanda do perfume que a sua dona usava... E ouvir um som. Vozes distorcidas conversando na sala. O diálogo complexo de seres imateriais.
Outubro é um dos meus meses preferidos do ano. Aliás, gosto de todos aqueles que trazem consigo comemorações especiais, celebradas em meio a filmes, livros e decorações que você só encontrará naquele momento. Fevereiro é assim, trazendo o Carnaval; abril, com a Páscoa; dezembro e o seu Natal. E o outubro, timidamente e de forma forasteira, transformou um mês comum para a cultura brasileira em um mês de alta demanda por máscaras horripilantes na 25 de Março, programações televisivas com a ressuscitação de filmes B de terror dos anos 1990, e um TikTok repleto de vídeos com dicas de maquiagem artística. Outubro trouxe consigo o Dia das Bruxas. Para os íntimos, Halloween; para os ufanistas, Dia do Saci; o que importa é que Outubro se tornou o mês da celebração de tudo o que é assustador, creepy, gore, slasher. E, claro, não conseguiria ficar de fora dessa onda: eu adoro o Halloween! E estou muito contente que, neste ano, apesar de toda a situação pela qual estamos passando, sinto que estou comemorando o Halloween de uma forma mais intensa. De fato, sinto o sangue gore correndo quente pelas minhas veias! Hahahaha. Por isso, quis compartilhar com vocês por aqui as atualizações do meu mês "Outubro do Terror". Também aproveito para deixar a sugestão de vocês compartilharem as suas comemorações de Halloween comigo lá nos comentários! Vou adorar ler o que vocês estão fazendo e, quem sabe, não tento algumas coisinhas e posto por aqui (ou lá no Instagram do blog @apequenaratinha)? :)
- Na quinta-feira que vem, conversarei com a minha amiga de forma online e a gente vai fazer uma Halloween Radio para comemorar. Ou seja, tenho que procurar algumas músicas horripilantes para compartilhar com ela. Estou me esforçando, mas está difícil hehe. Vocês conhecem alguma música de terror?
E é isso, pessoal. O mês de outubro está indo de vento em popa, não? Não esquece de compartilhar comigo a sua agenda de Halloween também :) Beijos açucarados e au revoir.
Cinza chumbo, o firmamento sangra em cores transparentes. O ar espalha aromas de gordura e cominho. Unhas tingidas de vermelho, conversas vazias de baby boomers, ansiedade trabalhando em 120 km/h. É sexta-feira, o dia da deusa-mãe Frigga. Por entre linhas coloridas, ele espreita. É dia primeiro e ele já espreita... Voraz, sadio, nostálgico, sorrateiro; com quantas páginas, neste ano, ele será feito? Espreitando, em tom baixo, sussurrado, está o medo. Chegou outubro. E ela sabe das suas inspirações de escrita: o primeiro ocupante da cadeira 36. - - - - - - bem-vindo, outubro. vamos a mais um mês de terror no blog? neste ano, eu preciso da ajuda de vocês! vocês poderiam compartilhar comigo um tema para que eu desenvolva um conto de terror? eu vou adorar ler as sugestões de vocês! beijos.
O tamborilar monótono da máquina de escrever soava como tiros sendo disparados. Um parágrafo, um novo carregamento. À frente dela, estava uma alma perturbada por amores não correspondidos e uma traição. Não havia entregado o líder, mas o melhor amigo. Morto com um tiro - quem mais conseguiria, por suicídio - entre formações rochosas distantes. E o escritor furioso da máquina incansável por ela aguardava. Sentado, digitando um romance póstumo, em seu rosto brilhava o dourado do relógio de bolso que descansava na mesa. Relógio que também não era dele, mas do amigo morto. Assim como o coração dela. Se o ritmo da datilografia se confundia com o pulsar em suas veias, os passos que ela dava eram as notas erradas naquela composição. E se as notas erradas, em uma música, geram aflição; aqui, nessa cena carregada por tensões, não seria diferente. O escritor já não podia mais ser indiferente. Parou de digitar. Os ouvidos apurados por entre conversas de bar e revoluções, pela última vez, ouviu o 'clanque-clanque' da arma sendo engatilhada. E, então, seus olhares se encontraram como o rio e o mar. As mãos dela tremiam, denunciando os sentimentos que seus olhos argutos tentavam disfarçar. Gentil, o escritor direcionou-a para fazer aquilo que ela precisava fazer. No ar, pairava um amor não correspondido, uma traição e a presença etérea do homem que os ligava. A mão dela já não tremia mais. O que se ouviu foi um disparo... Ou seriam as palavras finais do romance que ele vinha escrevendo? Na sala escura, as cortinas beges deixavam escapar alguns raios de sol que iluminavam a cena. Em um canto, uma mulher chorava por seu coração dilacerado. E o sangue escorria como cachoeira por entre os declives das teclas douradas de uma máquina chamada Chicago Typewriter.
- Conto inspirado no kdrama "Chicago Typewriter", produzido pela tvN em 2017.
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Chicago Typewriter é um dorama que estava há séculos na minha lista. Mas, sempre o deixava de lado com as desculpas mais diversas: "primeiro, vou assistir a esse dorama novo"; "olha, um dorama com meu ator preferido aí, vou assistir"; "esse pôster parece meio estranho, vou deixar para depois"... E, assim, Chicago ia ficando para trás nos antros mais profundos da Netflix. Até que, em uma noite em que estava de bobeira no TikTok, um vídeo surgiu anunciando uma revolução na minha vida de dorameira: o vídeo dizia que Chigago Typewriter ficaria disponível na Netflix até o dia 30 de setembro só! Não deu outra... Aquela era a chance perfeita para eu desencantar esse dorama!
E acabou que, duas semanas e muito coração quentinho depois, Chicago Typewriter se tornou o meu dorama favorito de todos os tempos. Se na minha lista ainda existem os doramas canônicos intocáveis, Chicago chegou para ocupar a posição mais nobre depois deles. Se eu pudesse classificá-lo, diria que ele é o dorama que poderia assistir várias e várias vezes sem enjoar (o que é muita coisa para mim, já que não tenho o costume de rever ou reler coisas); ele é o dorama que recomendaria para qualquer um, desde os dorameiros mais antigos até as pessoas que nunca viram um dorama na vida; ele é o dorama que faz com que borboletas douradas voem pelo meu estômago só pela introdução. Portanto, Chicago é o meu dorama favorito até agora, mais de trinta doramas depois.
Depois de tantos elogios, vamos a um pouquinho da estória desse dorama? Não farei exatamente a resenha crítica dele hoje, mas se vocês quiserem que eu comece a falar mais sobre doramas por aqui, é só deixar um alô nos comentários e prometo que volto para dar minhas opiniões mais aprofundadas sobre Chicago também. Vai lá depois de terminar aqui, estarei esperando por vocês, hihi! Ok, concentração agora. Chicago Typewriter é um dorama de fantasia que alterna duas estórias em sua narrativa. A primeira é a história de Han Se-Joo, um escritor de romances policiais super famoso na atualidade, um pouco excêntrico e muito arrogante, que um dia viaja até Chicago e fica encantado por uma máquina de escrever antiga chamada, justamente, Chicago Typewriter. Ele, então, volta para a Coreia do Sul e após eventos misteriosos que acontecem com a tal máquina de escrever, ela é enviada como presente para a sua casa. Quem faz a entrega é a nossa mocinha, Jeon Seol, que trabalha como faz-tudo e se auto-intitula como a fã número 1 de Se-Joo. À partir daí, a vida deles se cruza por eventos do presente e do passado que revelam um amor trágico, uma amizade indestrutível e a luta por ideais de liberdade.
Assim, a gente passa para a segunda estória, que se passa justamente nesse passado que eles compartilham com um terceiro elemento, que não vou revelar por aqui para não dar spoilers, hehe. Eu gosto muito das duas partes desse dorama, mas os flashbacks que eles têm da vida passada me encantam demais. O cenário é dos anos 30, um momento histórico bastante importante e difícil da história da Coreia, pois é o momento em que o território está ocupado em colonização pelo Japão. Os nossos protagonistas fazem parte de uma Aliança Juvenil contra essa ocupação japonesa, então, podemos entender melhor sobre os esforços do povo coreano por sua liberdade e de como isso impactava no cotidiano comum das pessoas da época.
Chicago Typewriter é um dorama muito emocionante. Se você gosta de História, recomendo demais, já que história asiática é um tópico bastante distante das agendas de educação aqui no Brasil. E se você, assim como eu, gosta de romances trágicos... Bem, vou parar por aqui, hihi. Mas, se vocês quiserem saber em mais detalhes o que achei do dorama, deixa nos comentários que prometo voltar! E você, já assistiu a Chicago Typewriter? Gostou do conto que fiz inspirado nele? Um beijo e au revoir, pessoal!
Ana saiu de casa em um dia de chuva. Borboletas aflitas recolhiam suas asas, enquanto os pingos grossos de chuva pela calçada caíam. Casas de muro alto brilhavam com os últimos reflexos de sol batendo contra o vidro molhado. Dante fechava a porta de casa quando escutou um grito assustado. Ela, uma garota misteriosa de curtos cabelos cor de mel, balançava as mãos de um lado para o outro em busca de equilíbrio. Fazia cena depois de escorregar em uma poça lamacenta perto da jardineira. Gargalhou, Dante, com um pouco de vergonha pela sua reação. "Havia alguém mais esquisita do que aquela moça?". Indignada, Ana foi em busca de satisfação. Jogou a bolsa surrada de lado, abandonou o guarda-chuva danificado em um canto e, com dedo em riste, se aproximou de Dante. "KKKK, foi isso o que eu ouvi, senhor?". Logo, Dante conteve a risada em um resfolego preso à garganta, assumindo um ar mais sério. "Me desculpe, moça. Não ri de você, não, apenas de uma mensagem que apareceu no meu celular". Nariz empinado, Ana soltou um breve "humpf!" para um Dante surpreso. Olhou para os dois lados da calçada deserta e foi atrás da moça de cabelos cor de mel. "Posso ajudar você de alguma forma?", Dante perguntou para as costas da jovem que se abaixava para recolher o inútil guarda-chuva. "Que siga com a sua vida, obrigada", respondeu Ana, balançando a franja recém-cortada, em tom de desafio. Rindo internamente, Dante pensou que a moça ficava muito bonita com as bochechas vermelhas de raiva. "Sem problema, moça. Mas, tenho um guarda-chuva que posso compartilhar com você... Poderia levá-la só até aquele ponto de ônibus ali ó", respondeu Dante. Torcendo a ponta desfiada do cachecol para que ele parasse de pingar em seus sapatos, Ana olhou diretamente nos olhos do rapaz. "Um dia o retribuirei pela ajuda, então, aceito. Sou Ana". Vendo mil jades nos olhos dela, Dante era um viajante de Stevenson que acabara de encontrar o seu tesouro perdido. "Xan... Van... Dante", respondeu, buscando apoio no cabo do guarda-chuva que abria com dificuldade. Yin e Yang ali se encontravam, presos no loop temporal que um dia de chuva provoca nos moradores de cidade grande. Web search por: falha na Matrix. Zás trás, que nada; são apenas dois enamorados.
Dias chuvosos, plim, plim. Dias para responder a tags, sim, sim. Eu li essa tag no blog da Gabriela e decidi encarar um exercício de memória hoje. Espero que as nuvens cinzentas que apostam corrida do outro lado da minha janela não venham até aqui anuviar os meus pensamentos. Coragem, Bruna. Cala-te Bruno (o quanto eu fiquei triste pela Pixar ter escolhido esse nome para personalizar o medo em Luca, meu santo Loki...)! Mas, vamos lá :) 10 anos atrás - 2011, tinha 13 anos e estava no ensino fundamental. - Lia a creepy pastas (histórias de terror online) nas aulas de informática com as minhas amigas. - Colecionava revistas Atrevidinha e entrava no site da Capricho para sonhar com as festas de debutante que eles publicavam por lá. - Se não me engano, foi neste ano que adaptei o roteiro de Cyrano de Bergerac para uma peça da escola. 5 anos atrás - 2016, tinha 18 anos e estava no cursinho pré-vestibular. - Achei que seria o pior ano da minha vida, mas foi o ano em que mais aprendi de verdade sobre tudo. - Comecei a me dedicar a tirar fotos bonitas para o Instagram. - Percebi que ler romances não era tão ruim assim. - Fiz uma lista dos meus sonhos da vida, porém, até hoje não cumpri um terço dela. 2 anos atrás - 2019, 21 anos e estava na faculdade. - O ano mais agitado que tive até agora, pois comecei a estagiar. - Comprei meus primeiros vestidos da Antix e, com isso, realizei um sonho. - Lia muito e escrevia muito no blog. - Fiz os meus primeiros vídeos jornalísticos e percebi que tinha ansiedade frente às câmeras. 1 ano atrás - 2020, 22 anos, faculdade em plena pandemia. - Passei meu aniversário com os amigos da faculdade, uma experiência única. - Fiz vários cursos online. - Virei a doida dos doramas e maratonei vários na Netflix. - Descobri o BTS e virei fã em menos de dois meses. - Bordei em quadros. Neste ano - 2021, 23 anos. - Mais um livro favorito da vida adicionado à lista: Kafka a beira-mar, de Haruki Murakami. - Cortei o cabelo depois de testar vários penteados que sempre quis fazer. - Voltei a minha fase rockeira glam. 1 mês atrás - Assisti ao duo melodramático Something in the Rain e Uma Noite de Primavera na Netflix. - Desenhei com giz de cera um lago com patinhos muito fofo. - Voltei a estudar inglês. - Início do projeto Radio 98 com uma das minhas melhores amigas. - Me apaixonei por uma voz. Ontem - Assisti a 100 days my prince na Netflix. - Terminei de ler Kafka à beira-mar. - Sorri com o fato do Taehyung ser fã de Arctic Monkeys, ou seja, meus dois universos musicais se chocando de forma linda. - Fiquei surpresa com a mudança de ares do Ed Sheeran em seu novo clipe. Hoje - Respondi a uma tag no blog. - Dia de assistir a uma animação nostálgica no Disney Plus. - Feijoada, feijoada, uh hu. No próximo fim de semana - Estarei lendo Suicidas, do Raphael Montes. - Ainda mais surpresa com a criatividade da série do Loki (?)
Voltei com uma tag, pois as tags estão salvando a minha crise de bloqueio criativo nos últimos tempos. Tags são legais de serem respondidas em dias tristes também... Mas, vamos a tag. Ela foi criada pela Liz e achei a proposta tão interessante que logo abri a minha janelinha do Blogger para a responder: ela consiste em separar músicas marcantes da nossa vida a cada cinco anos, começando lá quando nós éramos pequeninas, até os dias de hoje (aos meus vinte e três anos). Vou tentar lembrar de todas! Então, bora lá? ----------- 0 - 5 anos
Dessa época, eu lembro de três grupos que me faziam dançar e colocar o CD para repetir a manhã inteira na sala: Rouge, Furacão 2000 e Falamansa. Sim, o meu gosto era bastante peculiar e bem brasileirinho. Pergunto-me quando as músicas estadunidenses surgiram na minha vida... hihi. Eu entendia o que as letras do Furacão 2000 diziam? Claro que não! Mas, eu adorava a dancinha do "vou passar cerol na mão, vou sim, vou sim" e a repetia na sala de casa sem nenhum julgamento. E aguardava pelo dia em que encontraria o meu amor na janela, assim como a música dos meninos do Falamansa prometia. 6 - 11 anos
Ah, essa foi a época em que comecei a ouvir músicas estrangeiras... E também foi a época em que eu era a fã maluca de High School Musical na minha sala de aula! Confesso que esse período foi recheado de amores musicais e descobertas: ao mesmo tempo que ouvia Rihanna e Usher no rádio do carro, começava a pesquisar mais músicas do Green Day. Como eu fazia isso em uma época de internet discada que eu podia acessar só aos finais de semana, e ainda o YouTube funcionava à manivela mesmo assim? Não sei... Mistérios da persistência infantil que não me lembrarei jamais... 12 - 17 anos
Ok, se, aos 11 anos, eu estava me descobrindo musicalmente; ao longo dos cinco anos da minha adolescência, eu tinha a plena certeza de que o meu gosto musical não mudaria mais. Eu estava muito enganada, porém, só a minha juventude na pandemia me mostraria isso... Por enquanto, atentemo-nos ao que a Bruna adolescente gostava de ouvir. Foi a época em que eu pesquisava no Vagalume por bandas indie que encorpasse a minha paixão por Arctic Monkeys. Então, eu descobri Foster the People e The Lumineers. Foi a época em que eu fixei o meu primeiro ídolo musical, que eu tenho até hoje no meu coração, o Mika... E me achava diferentona por gostar de Alexander Rybak, um cantor norueguês supimpa, diga-se de passagem. Eu comecei a coletar as minhas preciosidades vintage como The Smiths, Elton John, Guns and Roses, David Bowie... E ouvia escondida ao boom do Luan Santana e do Restart no Brasil. Se você perguntasse à Bruna dessa época o que ela achava de Justin Bieber e One Direction, ela te fuzilaria com o olhar... Mas, se você perguntar a Bruna de hoje, ela os tem na playlist sem ressalvas, hahaha. 18 - 23 anos
Oh, oh, os meus anos dourados da música... Nunca soube tanto sobre ela e tive a playlist expandida para tantos gêneros diferentes como a minha fase jovem-adulta. De verdade, hoje em dia, eu pesquiso sobre prêmios de música, assisto aos festivais, acompanho os rankings de streaming... Estou me sentindo toda sabichona, hihi. Hm, sobre o que ouço atualmente, diria que é um pouco de tudo: sim, estou tendo a minha fase de army doida pelo BTS, porém, consigo visualizar os outros artistas também. Aurora, Harry Styles, IU, Maneskin, Jannabi, Jão... São esses os artistas que compõem a minha playlist de 2021. -------- Acho que é isso, mes amis. Fiquei muito feliz de fazer essa viagem musical por mim mesma, então, adoraria saber a viagem de vocês também. Fiquem à vontade para comentar quais são as suas músicas preferidas atualmente! E, muito obrigada, Liz, pela tag tão especial que aqueceu um pouquinho o meu dia nublado :) Beijos açucarados e au revoir.
Esse conto foi baseado no projeto que a Aione, do blog Minha Vida Literária, está produzindo. Por favor, assim que terminar a ler o meu texto, vá até o cantinho dela para a prestigiar. Está bem?
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Você apareceu como risos ao vento. Infelizmente, ainda não consegui discernir se você era o Timão ou o Pumba na relação que estabelecia com aquele a quem chamava de "melhor amigo". Unha e carne, carne e unha, os dois foram se aproximando do pequeno círculo de amigos que estava desenvolvendo a duras penas e me adotaram junto com ele. Eu te digo, caro anônimo, que quando, enfim, pude chamá-lo assim também - amigo - as nuvens sólidas em que pisava com meus pés sonhadores se dissolveram em felicidade gasosa e me fizeram flutuar. Por três anos, eu flutuei ao seu lado.
As suas piadas eram ruins. Hoje em dia, sinto a liberdade de lhe falar isso. Piadas de adolescente nerd que queria parecer descolado, piadas que poderiam estar em um show de stand-up qualquer. Eu ria, todos ríamos: você ficava feliz. Era isso. Mas, eu posso te elencar muitas coisas que não eram ruins em sua personalidade, cujas quais eu observava calada, enquanto tentava disfarçadamente potencializar. A sua extroversão, por exemplo, era admirável: todos te conheciam e ninguém tinha algo ruim para falar de você. A forma como você tentava deixar os seus amigos sempre felizes também era admirável... E a sua voz - tão bela, tão articulada - ainda ecoa pela minha mente quando me lembro de você.
Caro anônimo, você se encaixou nos padrões formados pelo meu subconsciente infantil, lá na época do meu primeiro amor, à primeira vista. Porém - eureka! - você também formou novos que eu tomaria como inspiração para a construção dos meus mocinhos de romance em RPG: se o amor de Coralina se realizou em uma peça de teatro, era porque este era o meu sonho também. Talvez, eu não devesse ter mentido para você dizendo que eu jogava RPG naquela época, pois, hoje em dia eu jogo, mas eu já não tenho mais você.
Se você me perguntasse, porém, o porquê de eu ter gostado de você, - naquela época em que o que mais importava para mim eram os livros e as provas pré-vestibulares - eu te diria que foi porque você sempre representou para mim tudo aquilo que eu queria ser, ao mesmo tempo que era tudo aquilo que eu queria curar. O seu sorriso significava mais para mim, porque eu sabia que ele era mais profundo do que você queria mostrar. A sua felicidade contagiante era uma vírgula de dúvida indecorosa em meu oceano amigo.
Parando para pensar, acho que eu realmente te amei. Porque, mesmo quando surgiu, na nossa sala, um anti-herói marviano, com as suas ideias revolucionárias e seus tênis Nike, disputando a atenção do meu consciente; todas as vezes que você se aproximava de mim, eu sentia um panapaná multicolorido abrindo asas em meu estômago e um quentinho em meu coração que se espalhava em tons carmim pela minha face tímida. Essa sensação não poderia ser explicada pela lógica; bom, talvez pudesse ser com uma música do Legião Urbana... Mas, eu não tive tempo: todo o tempo do show foi roubado, com um único fôlego, por você. Como eu poderia imaginar que, enfim, você encontraria coragem para cantar Faroeste Caboclo?
Caro anônimo, não se preocupe. Você já apareceu por aqui em outros contos. Não estou te expondo demais neste, pode ter certeza. Quer ver? "O ator terminou mais um espetáculo. Acredita na frase de Shakespeare. Ou será que acredita na releitura da mesma ideia feita por Charles Chaplin? Os seus modos tragicômicos aproximam-lhe de Carlitos, parte da festa com diversos trejeitos de seus companheiros que usará nas suas próximas apresentações". Você é este ator; e a sua personalidade sempre foi uma das coisas mais intrigantes da minha adolescência. Afinal, você era o protagonista dos livros de aventura e dos filmes de super herói que eu tanto admirava ali, materializado bem na minha frente. Me chamando pelo meu nome. E eu chamava pelo seu, em tom de brincadeira, numa referência aos shows infantis da televisão brasileira de décadas atrás.
Neste dia que destaquei no conto, nós nos encontramos pela primeira vez depois de os rumos da vida adulta terem nos jogado para caminhos completamente diferentes. Era uma noite fria, era um lugar desconhecido, e nós éramos parte do passado de uma pessoa em comum. Naquela noite, nós nos tornamos iguais. Contudo, bastou um sorriso seu direcionado para mim para que as borboletas da adolescência voltassem a flutuar pelo meu estômago. Naquela noite, nós nos tornamos iguais. Porém, caro anônimo, mesmo sentindo as mesmas sensações por você - veja bem, meu coração acelerou apenas por ver você chegar! - eu tinha me tornado outra. Era a versão madura, confiante e extrovertida de mim mesma que vivia naquela noite: e você notou isso. A quantidade de sorrisos e menções que você fez naquele dia superaram as que você fez ao longo de três anos inteiros.
Ah, caro anônimo, você deveria ter acreditado quando te contaram que eu estava afim de você nos primeiros anos da nossa amizade. Eu realmente estava... E eu poderia ter te ajudado a perceber o quão incrível você era e o quanto você merecia o meu amor. Porque tudo isso era verdade. Mas, não nos desanimemos: se a nossa história não deu um livro Young Adult, ela ficaria bem em uma de suas esquetes de humor.
Eu encontrei esta tag no blog da Liz's e fiquei encantada: primeiro, porque eu adoro responder a tags; segundo, porque já faz um tempinho que não atualizo os meus gostos pessoais por aqui, então, senti que seria uma excelente oportunidade para fazê-lo. Espero que gostem! As regras são: responder às perguntas com imagens ou texto (nos 4 livros, pode ser mangá ou HQ; e nos 4 filmes, pode incluir séries ou reality shows) e repassar a tag para outras pessoas. Já deixo marcadas: Larissa, do As Moscas na Janela; Bia , do Antique Faerie; e Mel, do Twee. Vamos lá?
1. Série Percy Jackson - Rick Riordan
2. Uma Constelação de Fenômenos Vitais - Anthony Marra
3. Livre para Recomeçar - Paola Aleksandra. 4. E não sobrou nenhum - Agatha Christie 4 peças do guarda-roupa para me conhecer 1. Vestidos 2. Saias midi 3. Camisetas estampadas cultura Pop
4. Meias-calças coloridas + Eu vou acrescentar perguntas referentes a música, porque é um dos meus hobbies preferidos hoje em dia!
2. Fly to my Room - BTS
3. Staring at the Sun - Mika
4. Bbibbi - IU
Acho que a tag valeu já pela parte dos memes, algo que eu nunca compartilhei com vocês aqui, hihi. Diz pra mim: quais são os seus 4x4?
Sim, eu reuni toda a coragem que existia em minha alma de escritora para produzir o meu primeiro conto especial em PDF para vocês. Este é o resumo de uma história que sempre martelou em meu coração pedindo para ser escrita. Os nomes das personagens vieram depois, de uma forma completamente espontânea, quase como se eles tivessem os sussurrado em meu ouvido. Neste singelo conto, vocês acompanharão o instante em que um ator se apaixona por uma espectadora da plateia, uma flechada de Eros em meio ao aroma de pipoca caramelizada e holofotes amarelos. Como eu disse, esta é uma história que sempre desejei escrever. Sinto que poderia fazer um romance inteiro apenas com a premissa que ela me oferece: porém, nesta época da minha vida em que tenho pouquíssimo tempo para me dedicar completamente a ela, decidi enxugá-la em um conto que desejo com todo o meu coração que vocês gostem. O romance de Colin e Coralina apenas se inicia e deixa, no final, a expectativa para novas criações e aprofundamentos. Se assim vocês desejarem, os trarei em breve. O link para o PDF do conto é este: https://bityli.com/ngM9p . Se preferir, me envie um e-mail para bubslovegood@gmail.com que mando o PDF do conto para você! Obrigada por se engajar na história de Colin e Coralina: eu desejo que Eros seja gentil com você assim como foi com os dois. :)
Há uma tradição coreana que diz que para cada dia do ano, existe uma flor específica. Ela é conhecida como birth flower, porque, naturalmente, as pessoas relacionam as flores do dia a sua data de aniversário. Para os coreanos, o dia em que você nasce e o seu nome são importantíssimos para determinar o seu destino. É por isso que eles evitam nomes com mais de três sílabas, por exemplo, ou até mesmo trocam de nome quando se tornam artistas. Com a sua data de nascimento é a mesma coisa. E, como as flores são muito importantes para este país também - cuja flor nacional é o hibisco - os seus significados são associados por especialistas a cada dia e mês do ano. Eu descobri essa tradição fofa assistindo a um vídeo no YouTube sobre os significados por trás das tatuagens do JungKook, um dos membros do BTS. Isso porque o JK tatuou a flor do seu aniversário, um lírio-tigre, em seu braço, quando tirou as famigeradas férias que proporcionaram a seu corpinho essa e muitas outras tatuagens mais. Para quem não sabe, tatuagens ainda são bastante mal vistas no país e muitos programas pedem para que JK as esconda para não "chocar" a audiência. Enfim... Quando eu assisti ao vídeo e vi o significado da tatuagem de lírio dele, fui logo procurar no Google sites que me dissessem qual era a minha flor! A pesquisa foi bem tranquila e basta vocês digitarem "korean birth flower" na caixinha que os resultados já vem. Se você não sabe inglês e nem coreano, dá para mudar a configuração do Google para "português" que a ferramenta já traduz a página imediatamente. Daí, é só procurar pelo dia e pelo mês do seu aniversário! E, depois, pela foto das flores, porque olha, mesmo eu gostando muito delas, não sou boa de associar a plantinha ao nome não! Hahahaha. Ah, mas não contei qual é a flor do meu aniversário, né? Música de suspense, tambores, tchananam... É a margarida branca! Eu faço aniversário no dia 06.03 e, segundo o blog em que pesquisei e o qual achei confiável, é a margarida a flor que me representa. Uma coisa bem legal é que o site também traz o significado de cada uma das flores. E, para a margarida branca do meu aniversário, o significado é este aqui: "alegria e atividade". Vocês acham que eu sou assim, alegre e bastante ativa? Hihihi. Eu, particularmente, adorei o resultado e já compartilhei com todas as minhas amigas as flores delas também. E você, sabe qual é a sua flor? Me conta nos comentários qual ela é o seu significado! Por hoje é só, mes amis. Peço desculpas pelo layout dos textos estar bagunçado, mas só consigo postar texto se ele estiver assim... Vamos ver se consigo arruma o blogger para que os posts saiam melhor. Beijos açucarados e au revoir.
A água refletia em tons de vermelho. Ao longe, o rádio de um estabelecimento qualquer ampliava uma voz melodiosa que bradava o outono. "Cause after all he's just a man..." As luzes acesas da rua eram amareladas, assim como o sorriso que ela lançava para o restaurante do qual saía. Um homem a olhava de dentro com um misto de felicidade contida e ciúme doentio. Ele acenou para ela, clamando para que o esperasse só por um minuto. O ar rescindia a terra molhada e castanhas caramelizadas. Os pés dela, envoltos por uma bota cor de musgo, começaram a ficar encharcados pela água de chuva que se acumulava, em poças luminosas, pela calçada. Se alguém a olhasse naquele momento, talvez, ficaria em dúvida se o que escorria pelo seu rosto pálido era a água que caía do céu ou a que saía de seus olhos. Um casal passou ao seu lado dando risadinhas. O sino de entrada do restaurante tiniu. O homem a segurou pelo pulso. Ela olhou para cima, seus olhos tristes refletindo a súplica vazia que ele fazia a ela. O homem elevou o tom de voz, tons roucos de fragilidade que ela não compreendia mais. Porém, ele não largava o seu pulso. Três vezes o semáforo da avenida permitiu a passagem de pedestres. O rádio já tocava outra coisa, uma balada que a lembrava dos filmes de John Hughes que costumava assistir com a melhor amiga. Ela tentava se concentrar no que o cantor falava para se desconectar do pedido que o rapaz fazia: voltar o namoro dos dois não era uma opção. Relembrando a cena, ela não conseguiria dizer quando tudo se transformou. Em um momento, ela sentia seu braço queimar de dor e os ouvidos estalarem por causa dos gritos que o homem dava, o rosto ficar quente pelos olhares ansiosos que sentia virem de alguns transeuntes. Em outro, ela era abraçada de forma carinhosa por alguém que cheirava a café, tinta-nanquim e felicidade. Sem saber como reagir, ela olhou para cima. Lá estava ele, seu sorriso espaçoso que fazia com que seus olhos virassem apenas dois riscos, abraçando-a como se ela fosse o objeto mais precioso do mundo. As suas lágrimas angustiadas, aos poucos, viravam lágrimas de alívio. De repente, ela sentiu que algo a cobria. Ele segurava um guarda-chuva vermelho com a mão livre. Enquanto seguia com ele pela rua movimentada, à espera que o semáforo ficasse verde para que pudessem seguir, ela ouviu as últimas palavras da canção que morria a soluços lentos no rádio. "Please don't forget who's taking you home/ And in whose arms you're gonna be/ Please darling, save the last dance for me". - Conto inspirado no kdrama Something in the Rain, disponível na Netflix
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fonte: giphy |
Enquanto você dormia, o vento chorava. Os sussurros que ele emanava, em semitons compassados, podiam ser ouvidos a metros de distância. Era o lamento por não poder carregar mais sua doce voz naquele dia. Enquanto você dormia, a noite brilhava em tons de azul escuro. Sua imensidão escondia os espíritos travessos que espiam das estrelas, aqueles que estão sempre à procura de risadas soltas e beijos roubados. Naquela noite, as estrelas brilhavam diferente: se você fixasse o olhar bem para cima, em um ângulo de 180º, era possível encontrar as pontas soltas do céu aonde as estrelas haviam se descolado. Assim, o céu rescindia a pó de estrela descolada, um aroma metálico que lembrava o cheiro de conversas interessantes interrompidas por um olhar atravessado. Enquanto você dormia, tudo no quarto brincava de ciranda. O compasso era dado pelo abajur que acendia e apagava em 1/4 de potência. Os livros da estante trocavam de lugar, embaralhando a seção de biologia com a seção de história da moda, invertendo a manga de camisa com a manga dourada e suculenta da página seis. Shakespeare agora conversava com Jane Austen sobre a fórmula do amor, enquanto Machado registrava os comentários deles com arguta precisão. Naquela noite, o assunto não era o amor. Porventura, era, sim, a melhor estratégia de subvertê-lo em conversas afiadas e alguns tostões. Enquanto você dormia, Afrodite tomou sua decisão final. Tal qual a espuma que embalara suas primeiras horas de vida, a inconsistência de sua razão lhe proporcionava momentos de brilhantismo em certos dias. Naquele em específico, Afrodite decidira pelo amor paciente. Se Ares era o mais belo, sua beleza significava correntes em seus pés leves de dançarina marina. Nunca se veria livre de sua dualidade com o deus, porém, poderia controlar o que era a sua metade do acordo. Em seus pulsos adornados por belos pingentes de estrelas cadentes, ela segurava as rédeas de um coração que amava ternamente. Enquanto você dormia, fadas nasciam de encantos inocentes. O orvalho que surgiria pela manhã era formado pelas lágrimas de felicidade que vertiam de seus olhinhos recém-nascidos. Se a flor que fora beijada por uma delas cantava na escuridão noturna, era porque nunca na face da Terra outra flor fora tão amada em um espaço de tempo tão curto. Flores tinham vidas perenes e mais davam do que recebiam amor. Aquela flor era diferente, ela carregava em suas nervuras o beijo de uma fada recém-formada: era o beijo da Natureza em sua mais pura consciência. Enquanto você dormia, aquele que o amava se deu conta disso. Primeiro, um abismo. Um grande e profundo abismo que o convidava para um passeio pela invalidez de sua própria existência. Ele era quem era há segundos? Não, ele não era mais uno. Havia uma bifurcação em sua linha vital agora. Depois, uma certeza de que era o dono do mundo. Uma megalomania ignorada por sua perda de juízo recente. Por fim, a explosão. A explosão de sua identidade para sempre. Seu cérebro já não trabalhava mais para suprir suas necessidades particulares, ele se tornara completamente seu. Não dele, seu. Enquanto você dormia, um castelo de cartas se desfez. Uma batida repetida, um ... dois ... três ... quatro. A voz que de lá vinha era a personificação perfeita da Caixa de Pandora. Era como se você ouvisse o som de um enorme fio sendo enrolado. Um fio que compunha uma cama de gato em sua existência passada. O fio subia, descia, virava à esquerda, parava. Um nó precisava ser desfeito. Outro nó. Por baixo agora. E você podia ouvir o som do carretel enrolando, cuidadosamente enrolando, aquele fio que não era outro senão a sua apaixonada atenção. Uma flauta de Hamelin afinada na língua dos anjos. Quando a tesoura viesse para a cartada final, tudo desabaria. Enquanto você dormia, alguém teve o minuto mais feliz de sua vida. E outro alguém, o minuto mais triste. Mas, você não sabia disso, pois o tempo não passava para você. O mundo dos sonhos é atemporal, mergulhado em um poço de adrenalina letárgica que te engole até você se afogar e desejar não voltar mais à vida real. Afinal, o que é pior do que ver tudo turvo à viver uma vida turva? Enquanto você dormia, flocos de neve dançaram valsas sem violino para acompanhar. Aqueles que não tinham par, rejeitados socialmente na danceteria noturna, se aventuravam pela sua janela na tentativa de a convidar para festa. "Quem é a moça bonita que dorme com sorriso de infância de compota de jabuticaba?', se perguntavam. Vinte tentaram, mas falharam. O vigésimo primeiro surgiu com uma ideia inovadora. Transformou-se em granizo para ficar maior e mais forte, então não se sentiria mais sozinho. Tímido, convidou-a para a gélida dança do sereno. Então, você já não dormia mais.
Nesses meses em que fiquei fora da plataforma, muitas coisas positivas aconteceram com o la petite souris. Principalmente no Instagram, uma rede que fez com que meu cantinho pudesse atingir muitas outras pessoas por aí. Isso não é algo interessante? Como as redes sociais podem chegar aos lugares mais distantes e nos aproximar de pessoas que, talvez, nunca teríamos conhecido? Eu sempre fico um pouco assustada quando penso nisso. No potencial da Internet e na responsabilidade que todos nós assumimos ao postar algo nela. Ao mesmo tempo em que encontramos pessoas semelhantes a nós e nos sentimos acolhidos, também não podemos ser completamente nós mesmos, pois a persona que construímos nas redes sociais contém só o positivo dentro de nós. Já pensaram nisso? Vocês conseguem ser 100% vocês mesmos neste universo binário? E, ao mesmo tempo em que a Internet me assusta um pouco, ela também nunca foi tão sedutora para mim. De modo que eu consigo passar dias inteiros - e até semanas - sem sentir a necessidade de me conectar a ela. Bom, sendo sincera, essa é uma realidade irreal para mim, pois eu realmente preciso da Internet para estudar e trabalhar hoje em dia. Mas, se sei que não receberei nenhuma notícia relevante no dia (geralmente, aos finais de semana) e que posso desligar o celular, eu o faço. E, de verdade, é muito mais instigante conferir as redes sociais ao fim de um dia cheio de novas experiências do que conferi-la o dia inteiro às migalhas. Assim, sinto, cada dia mais, que sou uma garota offline (trocadilhos, hihi). Sim, eu continuo a pensar em conteúdos para o blog e para as redes sociais dele... Porém, eu não permito que essa parte da minha vida me controle. Afinal, eu fiz o blog para ser algo divertido para mim e não mais um problema. Quando eu entro nele, é para eu me divertir e não para sentir ansiedade. Quando produzo para ele é para falar das coisas mais ternas na minha vida e não para participar de trends aleatórias...É difícil perceber que essa minha escolha não permite que o blog cresça exponencialmente. A verdade é que não tenho tantos seguidores assim, ou seja, a minha frente de atuação é limitada a minha querida Bolha da Dríade. Isso não é ruim. Eu, sim, sou muito grata à todos vocês pelo carinho que têm por mim aqui e nas redes sociais (@bloglapetitesouris). Muito, muito obrigada. Porém, é claro que eu fico triste. Por mais que eu me esforce, não vai. Não vai. Mas, eu não desistirei. Porque o la petite souris é meu cantinho do contente. E nunca desistirei de levar um pouco dele para as pessoas, mesmo que não sejam para milhares delas, ou milhões. Só que eu precisava fazer esse desabafo. Há muito tempo, eu precisava dizer isso a vocês. Sim, eu sou uma garota offline que prioriza a vida ao ar livre, despite of (não sei qual palavra em português poderia resumir esse sentimento) minha vida online. Sempre foi assim e temo que sempre será. Porém, o meu amor pelo blog é tão grande que eu gostaria, de verdade, que ele atingisse mais pessoas. Eu continuarei tentando. E, por favor, não desista da gente! Au revoir.
O sorriso dele continha mil primaveras.
Era como se ela pudesse ouvir Bem-Te-Vis chilreando, em harmonia com as asas de borboletas etéreas em busca de néctar, apenas ao olhar para o rosto dele naquele momento. Enquanto as bochechas se abriam, como cortinas de um teatro, para mostrar as trinta e duas pérolas brilhantes que compunham seu sorriso; seus olhos se arqueavam em uma espremidela aconchegante.
Se o sorriso dele fosse uma cor, talvez as mais fluidas cores do Arco-Íris não fossem capazes de o definir por completo. Como a Primavera, o sorriso dele era uma lufada de vida.
E como definir a vida em meros reflexos do Sol?